01/02/2013 - 7:00
DINHEIRO ? O que o sr. espera da economia brasileira neste ano?
JOHN WILLIAMSON ? Acredito que vai acelerar de novo. Algumas previsões ainda falam em 4%, mas eu não acho que o crescimento de curto prazo seja tão importante.
DINHEIRO ? E como o sr. vê o longo prazo?
WILLIAMSON ? No longo prazo, acredito que o crescimento será em torno de 4% ao ano. Não é tão grande quanto o crescimento de outros países, mas é bem respeitável para os padrões brasileiros.
DINHEIRO ? Alguns analistas acreditam que o Brasil está destinado a ter um crescimento baixo. Qual a sua avaliação?
WILLIAMSON ? Para acelerar o crescimento, será necessário ter uma poupança maior. O governo está dando sinais de que reconhece isso. Assim, a taxa de investimento pode aumentar para 25% ou 30% do Produto Interno Bruto (PIB). Hoje está abaixo de 20%. É necessário aumentar a taxa de investimento para sustentar um crescimento maior.
DINHEIRO ? O que o governo deveria fazer para atingir esse objetivo?
WILLIAMSON ? Vejo uma tendência do governo de mexer o tempo todo nas regras do jogo, inclusive nas de tributação. Seria muito melhor deixar as empresas investirem onde quiser, usar a mesma regra para todas as empresas em vez de tentar estimular setores específicos. Não creio que o governo seja tão bem informado sobre que setores têm potencial para crescer mais, e acho que não faz sentido tentar fazer isso.
DINHEIRO ? O governo está interferindo muito na economia?
WILLIAMSON ? Está, sim. Seria muito melhor que criasse condições de igualdade, promovesse uma taxa de câmbio competitiva e deixasse as empresas trabalharem por conta própria. Um fator que freia os negócios no Brasil, na minha opinião, é que os empresários passam metade do tempo tentando adivinhar qual será a próxima ação do governo em vez de se concentrar em aumentar a produtividade. O governo está introduzindo novas regras o tempo todo.
DINHEIRO ? É verdade que o México tomou o lugar do Brasil como o queridinho das economias emergentes?
WILLIAMSON ? Os mercados são muito influenciados pela performance de curto prazo. Muito mais do que deveriam ser. O correto é olhar para o longo prazo.
DINHEIRO ? Como o sr. vê a posição brasileira de defesa do real? Existe uma guerra cambial, como definiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega?
WILLIAMSON ? As medidas tomadas pelo governo americano para aumentar a liquidez foram motivadas por preocupações domésticas, e isso não é guerra cambial. A maior reclamação do ministro Mantega deveria ser dirigida à China, que está mantendo sua moeda desvalorizada em relação ao dólar, e não à expansão monetária americana.
DINHEIRO ? Houve um debate no Brasil, no início do ano, sobre como o governo brasileiro apresentou suas contas para chegar ao superávit primário de 3,1% do PIB. Manter um superávit primário ainda é importante para a credibilidade do País?
WILLIAMSON ? Acho que o Brasil ainda precisa do superávit primário e também de um superávit nominal. Isso pode ser obtido, agora que a taxa de juros está caindo ? embora ainda continue elevada.
Linha de produção de automóveis
DINHEIRO ? A inflação fechou novamente acima do centro da meta em 2012, embora ainda continue dentro da margem. O Brasil deveria se preocupar com a inflação?
WILLIAMSON ? Sim, eu acho que o País deve se preocupar com a inflação. É uma das razões para se ter uma política fiscal restritiva, com superávit.
DINHEIRO ? Nos últimos anos, a autoridade monetária teria permitido uma inflação um pouco maior, para estimular a economia. É uma política perigosa?
WILLIAMSON ? Até há pouco, eu tendia a apoiar a política do Banco Central brasileiro. Mas, agora, parece que a inflação está sendo incorporada, o que é bastante perigoso.
DINHEIRO ? Como o sr. vê a economia mundial neste ano?
WILLIAMSON ? A economia mundial não vai ser brilhante, mas também não será tão ruim quanto em 2012. A China continua bem, a Índia provavelmente estará ok, mas nada para se ficar tão entusiasmado. No Ocidente, os Estados Unidos continuam com um crescimento medíocre, a União Europeia não deve ter recessão como em 2012, mas também não terá uma grande expansão.
DINHEIRO ? Esses países desenvolvidos vão crescer o suficiente para voltar a liderar a economia mundial, ou vamos continuar nesse passo de quase estagnação?
WILLIAMSON ? Se formos examinar a economia pela medida de paridade do poder de compra (PPP), usada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o crescimento dos países em desenvolvimento conta bastante. Mas o mundo deve continuar a crescer, não vai ficar estagnado.
Movimentação de carga no porto de Santos
DINHEIRO ? E quando voltaremos a ver um crescimento robusto?
WILLIAMSON ? Essa é a grande questão. Acho que ninguém sabe a resposta. Talvez tenhamos mais um ou dois anos de crescimento mediano. Mas o perigo é termos uma nova recessão em vez de um crescimento mais forte.
DINHEIRO ? Uma nova recessão está a caminho?
WILLIAMSON ? Bem, isso vai acontecer cedo ou tarde. Temos de parar de nos preocupar com isso. Não vejo sinais claros disso, até agora. Mas é lógico que existe o risco de uma recessão nos Estados Unidos. O mundo não está destinado a crescer indefinidamente. Cedo ou tarde haverá uma nova recessão.
DINHEIRO ? Houve alguma evolução no pensamento econômico mundial depois da crise de 2008?
WILLIAMSON ? Houve uma reação imediata contra os mercados, e isso está sendo equilibrado agora. Não vejo uma grande mudança, apesar de todos os apelos para uma reformulação desse pensamento.
DINHEIRO ? Houve muitos apelos para reforma no sistema financeiro internacional, mas muito pouco foi feito. O sr. vê algum sinal de que haverá mudanças profundas nos próximos anos?
WILLIAMSON ? Não.
DINHEIRO ? E isso é necessário?
WILLIAMSON ? Seria muito melhor fazer alguma coisa. Mas não vejo nenhuma indicação de que isso vai acontecer.
DINHEIRO ? Um dos pilares do Consenso de Washington é a responsabilidade fiscal, mas isso não parece ser a regra no mundo, hoje em dia. Qual é a sua avaliação?
WILLIAMSON ? Não acho que é preciso que todos os países tenham superávits. Pedir um superávit fiscal num momento em que a economia real já está fraca, pode enfraquecê-la ainda mais.
DINHEIRO ? Os gastos eram necessários naquele momento?
WILLIAMSON ? Creio que o aumento dos déficits foi necessário para combater a crise. A expansão foi correta. Mas nem todos os países partiram do mesmo ponto, e isso faz muita diferença.
A maioria dos países em desenvolvimento, certamente o Brasil, tinha como ponto de partida uma situação fiscal muito mais forte do que outros. E isso fez a diferença na saída da crise.
DINHEIRO ? No Brasil se discute responsabilidade fiscal, mas também há uma expectativa de aumento dos investimentos, especialmente em infraestrutura. É correto deixar a responsabilidade fiscal de lado para buscar o crescimento econômico?
WILLIAMSON ? Sou a favor de o governo focar na dívida líquida em vez da dívida bruta (é exatamente o conceito utilizado pelo governo brasileiro e criticado por alguns especialistas). A dívida líquida não aumenta com a elevação dos investimentos. Só o crescimento dos gastos correntes é que aumenta a dívida líquida. Acho que há espaço para o governo brasileiro aumentar os gastos com investimento.
DINHEIRO ? Como o sr. vê a China no cenário mundial nos próximos anos?
WILLIAMSON ? A China vai continuar crescendo, mas num ritmo menor. Talvez 7% ou 8% nos próximos anos, o que ainda é muito elevado. Isso é natural. Não é preciso se preocupar. A preocupação é se eles vão continuar mantendo a moeda desvalorizada e aumentando suas reservas, o que torna mais difícil o crescimento dos outros países, como Brasil e Estados Unidos.
DINHEIRO ? E o Brasil?
WILLIAMSON ? Eu vejo o Brasil crescendo mais do que os Estados Unidos.