O EMPRESÁRIO LUIZ EDUARDO DE Abreu é capaz de consumir horas analisando a crise de 1929, freqüentemente comparada à atual turbulência mundial. Ao contrário de outros especialistas, ele vê semelhanças apenas superficiais. “Naquela oportunidade, ao contrário do que ocorreu agora, o governo americano só agiu três anos depois do estouro da crise, com o New Deal”, afirma ele. “Além disso, não havia organismos como o BID e o FMI, que podem operacionalizar as ações dos governos.” Por isso, Abreu cultiva um otimismo moderado em relação aos próximos meses. Suas palavras ganham mais força porque não saem da boca de um analista descompromissado com a economia real. Abreu tomou recentes decisões de negócio com base no cenário desenhado por ele. À frente do NSG, fundo de investimentos que lidera, ele prepara-se para tirar do papel um parque de energia eólica no Ceará. Para isso, desde maio de 2008, captou junto a fundos de pensão e investidores institucionais R$ 50 milhões e, com os recursos, comprou 50% de um projeto já aprovado para a geração de energia a partir de vento. Abreu calcula que possa arrecadar de R$ 200 milhões a R$ 400 milhões para atuar no setor eólico. “Uma das maiores dificuldades é encontrar bons ativos nessa área”, diz Abreu.

Não é a primeira investida do NSG no mundo da produção. Seu investimento inaugural foi realizado há cerca de um ano e meio, com a aquisição da Zamprogna, maior distribuidora independente de aço do País. Desde então, remodelou a estrutura da empresa e começou a oferecer produtos de maior valor agregado. Para alguns clientes, como a GM, passou a entregar chapas pré-moldadas para portas de alguns modelos de automóveis. Uma fabricante de caminhões está recebendo eixos que praticamente chegam prontos para a montagem do veículo.

Com isso, o faturamento baterá em R$ 1,2 bilhão em 2008, contra os R$ 700 milhões na ocasião da compra da empresa. O lucro subiu de R$ 35 milhões para R$ 80 milhões. Atualmente, Abreu conversa com quase uma dezena de concorrentes menores com vista a uma possível aquisição. Pelo menos duas dessas negociações deverão ter um final feliz – num prazo, porém, mais longo do que o esperado até o momento. “Há um grande estado de expectativa no mercado”, afirma ele. “Isso pode atrasar o processo.”

A NSG também mantém uma gestora de ativos, na qual administra recursos de algumas famílias do Centro-Oeste e do Nordeste do País. A queda nas bolsas reduziu o volume de R$ 200 milhões para pouco mais de R$ 150 milhões, mas o estrago poderia ser maior. Quando o índice Bovespa rodava em torno dos 70 mil pontos, a NSG zerou as posições acionárias de seus fundos multimercados e migrou para juros futuros. Sobraram os fundos de ações – e esses registraram perdas. “Não tivemos fuga de clientes”, diz Andréa Lopes, uma das sócias da NSG.

Criada em janeiro de 2006, a NSG surgiu por iniciativa de Abreu, ao final da quarentena obrigatória depois de sair da vice-presidência de finanças do Banco do Brasil. Aos 48 anos, formado em administração de empresas e com mestrado em comércio exterior pela London Business School, esse brasileiro nascido na Holanda participou de conselhos de administração, como o da Itaúsa, antes de fundar a NSG. E por que NSG? Nem Abreu nem Andréa sabem explicar. Alguns engraçadinhos, segundo eles, parafrasearam a famosa frase do economista americano Milton Friedman (“There’s no free lunch”) para dar sua versão sobre as iniciais da administradora de recursos. Segundo eles, NSG significa Nada sairá de graça.