A Nestlé já é grande o suficiente. Ela é a número um da indústria mundial de alimentos e bebidas. E nenhuma outra companhia parece ameaçar essa sua condição. Mas a corporação suíça não está satisfeita. Quer ser ainda maior. Para nutrir essa ambição, os suíços começaram a comprar empresas e criar joint ventures a torto e a direito. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Nestlé comprou a Ralston Purina, maior fabricante de ração para cães e gatos, e a Dreyer?s Grand Ice Cream, assumindo com essa aquisição a liderança no mercado americano de sorvetes. Ela ainda abocanhou o controle da argentina Dogui, que pertencia à Cargill, também na área de comida para animais de estimação. E no Brasil, ficou com a Garoto, o que lhe conferiu metade do mercado de chocolate do País. Em parcerias, há outra lista que inclui alianças com a Coca-Cola e a L?oréal. Sua última cartada sob essa filosofia de expansão acelerada foi anunciada recentemente na Suíça pelo porta-voz do grupo, François-Xavier Perroud. Agora a Nestlé vai entrar no mercado de higiene bucal. Por isso ela fechou um acordo com o grupo nova-iorquino Colgate-Palmolive, especializado em produtos de higiene pessoal. E juntos lançarão a goma de mascar Colgate para limpar os dentes.

Esses movimentos da Nestlé se configuram como um avanço sem precedente no mundo corporativo. ?A companhia pretende assumir o perfil de uma empresa ativa na área de nutrição, saúde e bem-estar. E o acordo com a Colgate-Palmolive vai nessa linha?, declarou Perroud ao anunciar a parceria. O curioso é
que mesmo parecendo exagerada a preocupação da Nestlé em fechar tantas alianças, ela está no caminho certo. ?Assim ela aumenta a utilização de algumas competên-
cias, como melhor aproveitamento de seus canais de distribuição, gerando mais valor aos acionistas?, explica Raul Beer, sócio da Price WaterhouseCoopers. No caso da união com a Colgate se deve somar a constatação do grupo suíço de que o consumo de produtos para higiene pessoal fora do lar está cada vez mais importante. Inicialmente, as duas companhias ensaiarão a aceitação popular do novo chiclete apenas na Inglaterra, na Irlanda e no Canadá. Só após avaliarem os resultados dessas primeiras vendas, no início de 2004, é que as duas pretendem lançar uma linha completa de produtos de higiene bucal, que está a cargo da divisão de confeitaria da multinacional suíça. Até agora, a Nestlé e a Colgate têm preferido fazer mistério em torno do novo produto, inclusive não adiantaram sequer as cifras sobre o volume de negócios que será gerado pelo chiclete Colgate. O segredo, claro, é uma certo marketing para aguçar a curiosidade dos consumidores e concorrentes.

Neste ano, as vendas da empresa estão muito bem nutridas. O aumento, entre os quatro primeiros meses do ano, foi de 6,3%. No ano passado, a Nestlé teve um lucro líquido de US$ 7,6 bilhões, totalizando um volume de negócios de US$ 66 bilhões. ?Nosso crescimento se baseia na disposição para inovação e na nossa força nas posições de mercado?, diz Peter Brabeck, presidente executivo da Nestlé. Ele está confiante de que em 2003 sua companhia terá ainda mais sucesso do que no ano passado. Brabeck é o grande responsável pelo apetite insaciável da empresa. É que para ele, num momento como esse de escassez de capital, a regra número um para gerir bem uma operação tão gigantesca é juntar forças para ter que investir menos. Sob esse conceito surgiram as joint ventures com a L?oréal, que resultou no desenvolvimento do Inneov ? também conhecido como ?pílula da beleza? ?, e com a Coca-Cola, no caso, fez nascer a BPW, fabricante de cafés e chás prontos para beber. Ao economizar quase sempre metade do que lhe custaria um novo negócio, a Nestlé consegue liberar recursos para as aquisições que a empresa tem feito. E também para financiar novas fábricas. Neste campo, um dos movimentos mais recentes da Nestlé foi investir US$ 120 milhões para construir uma fábrica de café na região de Krasnodar, ao sul da Rússia, o que leva sua expansão aos quatro cantos do mundo. E confirma sua vocação imperial.