03/02/2010 - 10:43
João Carlos Paes Mendonça foi um dos mais importantes barões da história do varejo brasileiro. Ex-dono do BomPreço e membro da família que foi controladora da rede Paes Mendonça, uma das maiores supermercadistas do País, ele tem autoridade como poucos para avaliar o setor. E seu veredicto é ousado: ?Ninguém entende de varejo no Brasil?, diz este sergipano de 71 anos, 60 deles dedicado ao segmento. ?Nem eu mesmo.? Homem de diálogos francos e diretos, Paes Mendonça sempre primou pela sinceridade. ?É muito difícil entrar em cidades ou regiões que não se conhece. Veja o exemplo do Abilio Diniz, que tentou entrar na Bahia sem sucesso, e o Michael Klein, da Casas Bahia, que acabou saindo do Rio Grande do Sul. É mais complicado entender o consumidor do que se pensa.? Afastado do ramo de supermercados, Paes Mendonça quer voltar a investir em São Paulo, mas agora sua prioridade é outra. ?Estou no negócio de shopping centers há anos. De supermercado, não quero saber mais?, diz.
O desabafo parece sincero, mas é facil perceber, entre um deslize e outro, como ainda bate ali o coração de um supermercadista.?Hoje, o cara da classe C quer ser B, o da classe D quer ser C. E já não se sabe quem está em que camada mais?, afirma. ?Se você quer descobrir em que parte da pirâmide social seu consumidor está, olhe no carrinho de supermercado dele. É uma tática infalível.?Há um mês, a holding do empresário, chamada de JCPM, adquiriu 20% de participação no Shopping Granja Viana, na Grande São Paulo, estabelecimento que pertence à BR Malls. Anos antes, o Paes Mendonça já havia comprado 20% do Shopping Villa Lobos. Existem hoje dez shopping centers no País em que o grupo nordestino tem participação acionária (sendo oito nos Estados da Bahia, Pernambuco e Sergipe). Em cinco deles a empresa já é investidora majoritária.
O crescimento médio da companhia não tem sido inferior a 20% ao ano, segundo fontes ligadas à empresa, que atua também na área de comunicação e construção civil. ?Em São Paulo, somos minoritários e eu pretendo continuar assim?, afirma. ?Avalio sempre se há algum negócio com o pessoal da BR Malls. Se tiver algo que interesse, sentamos e conversamos?, afirma, num recado que parece encaminhado ao comando da BR Malls. Em 2010, Paes Mendonça vai abrir um novo shopping em Salvador e planeja outro para a cidade do Recife. Diz que vai crescer nessas regiões “passo a passo”, sem se atropelar ou buscando recursos a qualquer custo. ?Não tenho pressa, não estou endividado ou mesmo em qualquer processo de sucessão. Ou seja, não há razão para aceitar vender meu negócio ou parcela dele.?
Quando ele se desfez da rede BomPreço, adquirida pelos holandeses da Royal Ahold em maio de 2000, Paes Mendonça abriu mão de um negócio que pertencia à família há mais de seis décadas. Hoje, a rede é controlada pela americana Walmart. À época, ninguém entendeu muito bem o que ele havia feito. Aos mais próximos, disse que era o momento de sair de cena, já que a disputa entre os gigantes do segmento ficaria feia. E o cheque, de R$ 600 milhões, segundo rumores da época, era gordo. O estilo pragmático é marca registrada de toda a família. Em maio de 1999, a rede Paes Mendonça, liderada pelo tio Mamede Paes Mendonça, alugou os seus 25 pontos para Abilio Diniz, do grupo Pão de Açúcar. O motivo do acordo: endividada e pouco capitalizada, não tinha fôlego para brigar com os rivais mais fortes (Diniz os transformou em pontos das redes Extra, Pão de Açúcar e CompreBem).Apesar de estar há uma década distante do chão de loja de uma rede supermercadista, o empresário fala do antigo negócio com paixão escancarada: ?Na outra encarnação, eu quero voltar como varejista de novo.?