08/12/2010 - 21:00
De uma hora para outra, relatórios de negociações, informações e conversas privadas de altos diplomatas expressando opiniões constrangedoras sobre chefes de Estado e seus respectivos países tornaram-se públicos. Os EUA viram-se mergulhados numa crise internacional com os parceiros. E a constatação geral e inevitável veio a seguir: ninguém está seguro! Não pelo teor das revelações, a maioria conhecidas – tratando desde a corrupção afegã até a impressão do governo Obama de que a Rússia é um “Estado mafioso” –, e mais pela demonstração cabal de que a rede da internet converteu-se num imenso buraco negro que tudo engole e espalha.
Os bilhões de dólares gastos em segurança de dados de nada valeram ao Departamento de Defesa, às zelosas autarquias ou aos órgãos de inteligência como a CIA. Estava tudo lá, à disposição do público, para uso e mal uso por quem bem entendesse. E se fossem assuntos estratégicos de sua empresa ou de sua vida pessoal como o Imposto de Renda? O alvo não está tão distante assim de sites como o WikiLeaks.
Ato contínuo da ação na semana passada, os operadores do WikiLeaks avisaram que um grande banco dos EUA seria “a próxima vítima”. Especulou-se então se tratar do Bank of America. A suposição foi como um rastilho de pólvora, provocando a queima dos papéis da instituição, em um ensaio de risco sistêmico.
Não há dúvida, em várias direções a quebra de sigilo indiscriminada, sem nenhum tipo de filtro, pode causar estragos profundos. Até com riscos de tortura, prisão ou morte – no caso da revelação de nomes de agentes secretos atuando em países sob regimes autoritários.
E aí abre-se a discussão: ao atravessar a fronteira entre o que deve e o que pode ser de conhecimento público, instituições como o WikiLeaks não estariam extrapolando o legítimo papel de buscar a transparência das informações e partindo para a espionagem pura e simples com consequências imprevisíveis para todo o mundo?
É certo dizer que em alguns casos – como o do aviso antecipado de que poderiam disponibilizar dados sobre a situação de dificuldades de um grande banco – soa como ameaça, que pode até descambar para a chantagem. É a senha para a ilegalidade.