12/11/2021 - 13:48
Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) – O nível dos reservatórios da região Sudeste/Centro-Oeste, onde estão localizadas as principais hidrelétricas brasileiras, praticamente terá de dobrar até o final do período úmido, em abril de 2022, para o país voltar a registrar algum alívio em termos energéticos, e isso é possível, disse à Reuters o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi.
Segundo o chefe do Operador Nacional do Sistema Elétrico, após o pior período úmido em mais de 90 anos na área das hidrelétricas, as chuvas começaram dentro do previsto, diferentemente de 2020.
+ Toshiba planeja se dividir em três, mas rejeita convite para fechar capital
Para novembro, por exemplo, o ONS prevê chuvas acima da média no Sudeste/Centro-Oeste, além de precipitações em 89% da média histórica no Nordeste, outra importante região de hidrelétricas, disse o órgão nesta sexta-feira.
Atualmente, o nível das represas das regiões Sudeste/Centro-Oeste está em cerca de 18,5%. O ideal, de acordo com Ciocchi, é que as chuvas que começaram agora possam elevar o patamar para perto de 35%.
“Com a chuva que já chegou, unidade do solo, mesmo que a gente projete as chuvas de 2020/2021, que foram as piores da história, a gente chegaria (em abril) em 35%, estourando 40% (no Sudeste/Centro-Oeste)”, destacou ele.
“Esse seria um nível que a gente atravessa o ano de 2022 como esse aqui. Com cautela, cuidado e consegue”, disse ele, destacando que esse nível evitaria qualquer risco de racionamento de energia.
Apesar de o nível das represas terem que dobrar até abril, Ciocchi estima isso seja viável.
“Se a gente chegar nos 35%, vai estar bom… e é possível sim… do ponto de vista técnico, entraremos em 2021/2022 com muito mais confiança do que 2020/2021”, reforçou ele.
As chuvas em janeiro serão importantes para melhorar a situação dos reservatórios, destacou ele, notando que por ora é difícil fazer previsões certeiras para o primeiro mês do ano.
CUSTOS
Para bancar os custos de acionamento de mais térmicas para garantir o suprimento de energia, o governo criou a bandeira de escassez hídrica prevista para ficar em vigor até abril do ano que vem.
Segundo Ciocchi, não há a menor perspectiva de se abandonar a nova bandeira.
Ciocchi sinalizou, contudo, que se as chuvas vierem dentro ou acima das expectativas, as térmicas mais caras serão desligadas, diminuindo a pressão de custos sobre a energia.
A conta da bandeira tarifária tem sido deficitária, apesar do aumento tarifário, e o setor tem negociado com o governo um pacote ao setor elétrico que incluiria financiamentos de bancos que podem chegar a até 15 bilhões de reais, segundo publicou a Reuters anteriormente.
RECUPERAÇÃO
O diretor-geral do ONS afirmou que depois da maior crise hídrica em mais de 90 anos será preciso um projeto de dois a três anos para recuperar o nível das represas do país.
“Não dá para replecionar reservatórios com uma única estação chuvosa. Esse é um programa a ser mantido e trabalhar isso por dois, três anos. Tem um imponderável enorme porque não se sabe quanto de água que vem”, frisou Ciocchi.
Essa recuperação dos reservatórios, disse ele, não será feita a qualquer preço ou custo. Ciocchi afirmou que não se pode pensar em “encher reservatórios com térmicas que custam 2.400 reais por megawatt hora”.
REDUÇÃO VOLUNTÁRIA
O Operador Nacional do Sistema Elétrico suspendeu esta semana o recebimento de ofertas no programa de redução voluntária do consumo de energia elétrica, que envolveu grandes consumidores de energia e outros agentes, como uma das formas de o governo lidar com a crise hídrica.
Isso ocorreu após a melhora das condições hidroenergéticas e com a efetividade dessas ações emergenciais, disse o diretor.
A medida, no entanto, não exclui a possibilidade da retomada das ações em 2022, caso seja identificada a necessidade de recursos adicionais para atendimento à demanda por energia elétrica no país.
A suspensão foi alvo de críticas, mas o diretor do ONS afirmou que elas são infundadas.
Segundo Ciocchi, neste momento, não é preciso de energia de ponta, foco do programa de redução de demanda voluntária.
“Esse programa era para ponta, para aqueles 15 ou 30 minutos que você precisa de 500 MW a mais para não ter problema. Ele foi bem-sucedido e utilizado, mas quando você não precisa, acabou”, disse ele.
Ele explicou que não se pode comparar o preço de uma térmica com a resposta da demanda. “Comparar isso é comparar laranjas com melancia. Uma coisa é pagar caro por uma energia para todo o mês, outra coisa é uma potência num dia de 17h00 às 17h30, por exemplo. Não tem essa de usar um recurso mais caro e deixando de lado um mais barato.”