Desde seus primórdios, a indústria automobilística enfrentou (e não conseguiu vencer) um adversário poderoso: peças remanufaturadas. Por conta disso, as fabricantes de autopeças originais sempre perderam receitas preciosas. Só no Brasil, o setor de peças remanufaturadas movimenta R$ 1,8 bilhão por ano. Pois a Eaton, uma gigante que fatura US$ 11,5 bilhões globalmente, resolveu invadir o território do inimigo, oferecendo sistemas de câmbio remanufaturados. As vendas nesse filão deverão crescer 66%, saltando para 1,5 mil unidades neste ano. Pode parecer um número tímido, mas cada câmbio remanufaturado custa algo em torno de R$ 12 mil. O alvo são as pequenas transportadoras que normalmente se abastecem no chamado mercado paralelo. Um dos maiores incentivadores desse projeto é Patrick Randrianarison, presidente da Eaton para a América do Sul. Desde sua posse, em maio, essa divisão vem sendo fortalecida. 

 

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Randrianarison, presidente: seu alvo são as pequenas transportadoras e frotistas

 

Para isso foram criadas duas linhas de produção, nas fábricas paulistas de Valinhos e Mogi Mirim, específicas para essas encomendas. Mas será que essa estratégia não pode resultar, no futuro, na canibalização dos produtos da própria marca?  “As peças remanufaturadas não concorrem com as novas. Com esse produto atendemos um público distinto, que normalmente não adquire peças originais.

 

E isso funciona também como uma forma de protegermos nossa marca”, afirma o diretor da área de veículos da Eaton, Ricardo Dantas. Para conquistar clientes, a companhia desenvolveu um sistema de vendas que privilegia a comodidade: um técnico retira no local os componentes do sistema de câmbio (transmissão, sincronizador e embreagem) e instala a peça recondicionada. 

 

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O preço 40% menor que o da original e a garantia de um ano também acabam funcionando como um forte apelo de venda. Nem todos, contudo, veem com bons olhos a entrada da Eaton nesse nicho. “Esse tipo de ação da fabricante pode fazer com que todo um segmento simplesmente desapareça com o tempo”, diz José Laguna, vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Reparação de Veículos e Acessórios (Sindirepa).