23/04/2003 - 7:00
O dia amanhece rápido na África do Sul. São seis horas da manhã e os turistas, orgulhosos dentro de típicas roupas de safári, em tons de bege e cáqui, entram em Land Rovers sem capota. O céu os protege. O termômetro marca 15 graus. Os carros, como gazelas, saem em disparada para o meio de Shamwari, reserva privada a 45 minutos de automóvel de Port Elizabeth e a hora e meia de vôo de Johannesburgo. A pressa tem uma razão: é preciso sair cedo para encontrar os big five, o quinteto formado por leões, elefantes, rinocerontes, búfalos e leopardos. É apenas nas primeiras horas da manhã e ao pôr-do-sol que os animais andam livremente pela savana. No restante do dia é preciso paciência. O calor do meio do dia espanta os bichos que se escondem na vegetação fechada. Nas trilhas de terra batida, o guia de safári, o chamado ranger, procura pistas dos animais. Um grande galho quebrado na estrada é sinal de que elefantes estão na área. Minutos depois ele avista uma família inteira, o macho, a fêmea e o filhote se alimentando de pequenos arbustos. A menos de dez metros, é possível observar a vida silvestre em estado bruto. As máquinas fotográficas disparam. Às nove da manhã já é hora de terminar o passeio. O contato com os animais selvagens, a vitória de quem sonhou com a África, já autoriza o retorno ao hotel.
Na savana africana, o rústico e o luxo caminham de mãos dadas. Esqueça a imagem ao estilo Indiana Jones, do aventureiro com mochila nas costas e cantil na cintura. Em Shamwari, criado em 1991 pelo conservacionista Adrian Gardiner, o conforto na hospedagem é o prêmio do caçador. Há seis diferentes lodges na reserva, todos eles cinco estrelas. O Long Lee Manor foi construído em 1910, em estilo eduardiano, e acomoda 34 pessoas. Os que desejam algo mais rústico podem se hospedar no Bayethe. São nove tendas de lona, com cobertura de palha e a qualidade de um hotel de luxo. Uma terceira opção é o Lobengula. Com decoração étnica, o chalé oferece serviços de spa como massagem e banhos terapêuticos. Mas para os que buscam as emoções do safári também na hora de dormir, o ideal é ficar no Eagles Crag. O lodge está encravado na reserva. Não há cercas nem muros para separar os animais dos
nove chalés do hotel. Durante o dia os bichos se mantêm afastados pela presença das pessoas. Mas ao aparecer das estrelas, os hóspedes só podem circular entre os quartos e a área social do Eagles Crag com escolta armada. A vida animal está tão presente neste hotel que pela manhã é comum ser surpreendido por uma pegada de leão à porta.
No período da tarde, depois da agradável permanência nos quartos, a aventura recomeça. De volta às trilhas, o alvo da ansiedade dos turistas são os leões. O ranger encontra dois machos descansando à sombra dos arbustos. A cena é incomum. Os leões estão nos
limites de seu território. O guia explica que a qualquer momento pode sair uma briga entre os animais. Mas nesse dia os bichos estão preguiçosos e a briga fica para depois. A compensação
para os frustrados? A degustação de vinhos no meio da
savana, acompanhado de frutas secas. O sol se põe e o
espetáculo se completa.
O LAR DE MANDELA |
Johannesburgo, capital econômica da África do Sul, é uma cidade violenta. Abriga, em suas ruas, todos os problemas construídos por quase um século de regime segregacionista. Mas há um motivo espetacular para conhecê-la: o hotel Saxon. Instalado no bairro chique de Sandton, o Saxon é uma das casas mais refinadas do continente africano, endereço apreciado pelos amantes da Desde então, o líder africano passa todos os seus aniversários A fascinação do Saxon é resultado de sua extrema discrição e, evidentemente, de um forte esquema de segurança, realizado por agentes muito bem treinados. Pesados portões de madeira separam a mansão do resto da cidade. Os móveis de madeira clara dão o tom na decoração das 26 suítes, repletas de obras de arte africanas. O show à parte fica por conta das duas suítes platinum, que levam o nome de Nelson Mandela e de Thabo Mbeki, atual presidente da África do Sul. São 350 metros quadrados com dois dormitórios, sala de jantar e elevador privativo feito de vidro. O preço da diária: US$ 1.700. Atenção: não sonhe em reservar um quarto no hotel no dia 18 de julho, aniversário de Mandela. Nessa data, o Saxon, numa espécie de apartheid às avessas, fecha suas portas aos comuns dos mortais. |
A noite desce veloz na savana africana. Com ela prosseguem as surpresas. Um dos programas em Shamwari é o safári noturno. O ranger ostenta uma potente lanterna. Procura uma manada de antílopes. É preciso silêncio nessa hora. Um movimento mais brusco vindo do veículo e os animais se assustam. É bom levar na bagagem uma máquina fotográfica com lentes potentes, já que os bichos se mantêm a uma razoável distância do veículo. As noites africanas reservam um espetáculo para o paladar. O menu do jantar é baseado em carnes de caça, como kudu e springbok, antílopes típicos da região. Bichos, comida e bebida. Os segredos de Shamwari custam caro. As diárias na alta estação variam de US$ 432 a US$ 575 por pessoa, dependendo do lodge escolhido.
Mas é preciso se programar. Os meses de dezembro e janeiro são tão concorridos que as reservas são feitas com um ano de antecedência. Nessa época, os europeus invadem em peso Shamwari em busca do verão africano. Desde o fim do regime do apartheid, e com a liberação de Nelson Mandela, em 1990, a África do Sul se tornou um dos destinos mais cobiçados para a prática do safári fotográfico. No tempo em que o racismo envergonhava o país, visitá-la era atitude de mau gosto. Isso mudou. Hoje, há 6 milhões de visitantes por ano. São pessoas em busca do contraste mágico, quase literário, entre o ocre das savanas e o céu azul. Os segredos da África do Sul não poderiam ter sido enjaulados pelo apartheid.