21/06/2022 - 6:45
“A cidade está preparada para a defesa”, afirma Vadim Liakh, prefeito de Sloviansk, localidade do leste da Ucrânia, que em breve pode virar uma frente de batalha nos combates diante do avanço das tropas russas a partir do norte.
Diante de seu gabinete, os moradores da pequena cidade da região de Donetsk enchiam garrafas de água na segunda-feira a partir de um grande barril.
A situação “é complexa porque a frente se aproximou nas últimas semanas, a até 15-20 quilômetros”, explica Liakh, que veste uma camisa militar parecida com a usada pelo presidente Volodymyr Zelensky.
“Esperamos que as novas armas para o nosso exército cheguem em breve”, acrescenta.
Os combates afetaram os moradores de Sloviansk. “Não há água corrente, não há gás, mas pelo menos temos energia elétrica”, disse Yuriy, de 66 anos, enquanto enche uma garrafa de água.
Devido aos combates intensos nas áreas onde estão localizadas as estações de bombeamento, “restaram apenas as fontes naturais e os carros-pipa”, explica o prefeito.
Apesar do fornecimento de energia elétrica “instável”, um terço das lojas permanecem abertas e a ajuda continua chegando à cidade.
As dificuldades não diminuem o otimismo sobre o futuro da guerra da esposa de Yuriy, Valentina. “Pensamos que vão vencer”, afirma a mulher de 63 anos.
Em 2014, no início da guerra das autoridades de Kiev contra os rebeldes do Donbass, Sloviansk foi tomada pelos separatistas pró-Rússia, mas foi recuperada pelos ucranianos após um longo cerco.
O prefeito mantém o contato com o exército todos os dias, mas afirma que não interfere em questões bélicas. “Eles sabem melhor o que é necessário para as operações militares”, disse.
Mas ele não falou com as autoridades das cidades devastadas pela guerra mais ao leste, como Severodonetsk ou Lysychansk.
“O algoritmo é claro: tudo vai depender da situação na frente”, afirmou.
Os preparativos incluem a criação de espaços de trabalho “nos refúgios e nos porões dos hospitais para oferecer atendimento de emergência mesmo sob os bombardeios”.
Antes da guerra, Sloviansk tinha população de quase 100.000 habitantes, mas atualmente tem 25.000, o que, afirma Lyakh, “ainda é muito”.
“Damos mais ênfase à retirada (…) Infelizmente, nem sempre as pessoas escutam”, lamenta.
– “Esperamos a paz” –
Em Kramatorsk, outra cidade que enfrenta um possível cerco russo, a atmosfera é mais animada, com grupos de soldados nos supermercados e cafés.
“No momento está mais ou menos calmo”, afirma o prefeito Oleksandr Gonsharenko à AFP. “Ao entardecer ou durante a noite podemos ver explosões a 40-45 quilômetros”, explica.
“Os russos se aproximam, mas nosso exército tenta manter as posições”, acrescenta.
Nos últimos meses, as autoridades e o exército ajudaram a reforçar as defesas e Kramatorsk está “mais ou menos” preparada, insiste o prefeito.
“Esperamos um milagre, esperamos a paz, que esta guerra fratricida termine logo”, disse Valentina, de 57 anos, que vende pão e queijo em um mercado.
“Até agora, tudo está bem aqui, mas é muito difícil psicologicamente quando vemos na televisão o que acontece em outras cidades”, declarou Svitlana, 48 anos, que trabalha no mesmo mercado.
A cidade ainda tem água e energia elétrica, apesar de alguns cortes ocasionais.
“A única coisa que não temos na região de Donetsk é gás, devido aos gasodutos quebrados procedentes das regiões de Kharkiv e Lugansk”, duas áreas devastadas pela guerra, disse Gonsharenko.
Quase 30% dos moradores, 60.000 pessoas, permanecem na cidade e os dados telegônicos mostram que quase 10.000 pessoas que abandonaram a localidade no início da guerra retornaram recentemente.