Sinais quase imperceptíveis podem ser a chave para detectar grandes catástrofes antes que elas aconteçam. No caso dos terremotos, mudanças no comportamento dos animais ou até alterações na composição da água podem ser pistas importantes. Desastres, no entanto, não são estudados apenas por geólogos. Desde a quebra da bolsa americana, em 1929, economistas tentam prever turbulências no mercado acionário. E se fosse possível detectar crises financeiras antes que elas eclodissem? Foi pensando nisso que o pesquisador do Insper Marco Antonio Leonel Caetano e o professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica Takashi Yoneyama desenvolveram o Índice de Mudanças Abruptas (IMA), que avalia as chances das bolsas sofrerem um abalo sísmico. 

 

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Terremoto: mede o grau de estresse das bolsas e mostra a hora de o investidor comprar

ou vender ações. O indicador foi desenvolvido pelo pesquisador Marco Antonio Leonel Caetano,

professor de Sistemas de Informação do Insper, em conjunto com Takashi Yoneyama,

do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)

 

No dia a dia, a ferramenta auxilia os investidores a definirem se é hora de comprar ou vender uma ação, a partir das oscilações dos preços nos últimos dias ou minutos. Caso o resultado esteja próximo a 1, o cenário é favorável para adquirir o papel. Já se estiver mais perto de zero, a indicação é sair imediatamente. ?Com isso, consegui fugir de quedas fortes?, diz o engenheiro da Petrobras Mario Nogueira, que trocou a análise fundamentalista pelo índice do terremoto na hora de montar a carteira de investimento. Apesar de inovador, o IMA não é o único indicador que mede oscilações do mercado. 

 

Conhecido como índice do medo, o Volatility Index (VIX) projeta a volatilidade das 500 maiores companhias americanas, no entanto, não consegue prever movimentos abruptos, como no caso da crise econômica de 2008. Tanto é que o patamar mais alto que o VIX já atingiu foi no mês seguinte ao pedido de falência do Lehman Brothers. ?Nos testes, observei que o IMA mostrava um clarão na tela dois dias antes da quebra das bolsas; é como um celular identificando uma antena: quanto mais próximo, mais forte o sinal?, compara Caetano. Isso aconteceu tanto na crise de 1929 quanto na de 2008, mas, desde então, esse fenômeno não se repetiu. 

 

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Marco Antonio Caetano e Raul Ikeda: prever mudanças bruscas rende dinheiro

 

No entanto, quedas bruscas foram identificadas. Para se ter ideia, nos últimos 1.100 dias, o IMA mostrou 74 retrações abruptas. ?Às vezes, fatos inesperados não provocam uma oscilação tão grande, porque o mercado não estava estressado?, diz. ?Mas, se as bolsas já estiverem a mil e algum evento externo acontecer, o reflexo tende a ser violento?, afirma Caetano. O administrador de empresas Renato Secco, que há dez anos investe 65% do seu patrimônio em ações, aproveita os momentos de nervosismo do mercado. ?É nessas horas que procuro oportunidades?, diz. Além do IMA, o investidor utiliza a análise fundamentalista para decidir onde aplicar. 

 

Esse tipo de análise leva em consideração indicadores financeiros e de mercado, comunicados na Comissão de Valores Mobiliários e até notícias veiculadas na mídia. A partir disso, os analistas projetam preços para os papéis e definem se o valor negociado em bolsa está abaixo ou acima do que seria justo. Por sua vez, a análise gráfica leva em consideração o comportamento passado das ações. Neste caso, o analista procura por padrões nos movimentos de preços dos ativos para prever a tendência do próximo passo. Fatores usuais também podem servir como indicadores do aquecimento da economia e, assim, dar pistas do momento nas bolsas. 

 

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É o caso do Índice Big Mac, que compara as taxas de câmbio em diferentes países com base no custo do sanduíche do McDonald?s. Publicado pela The Economist, o indicador mostra uma forte correlação entre o preço em dólar do Big Mac e o Produto Interno Bruto per capita. Outro indicador é o da gravata. De acordo com a Business Insider, em tempos de crise financeira, é comum os homens usarem gravata para dar a sensação de que trabalham mais. Nesses momentos, a peça preferida são as mais finas. Mas, quando a economia volta a crescer, saem do armário as gravatas mais brilhantes. Não são apenas os homens que mudam o padrão de comportamento em tempos difíceis. 

 

As mulheres preferem comprar batom, em vez de adquirir bolsas e sapatos, em crises econômicas, de acordo com índice criado pelo presidente da Estée Lauder. Mas até que ponto é possível confiar nesses indicadores? Segundo Caetano, no índice do terremoto o acerto das projeções de longo prazo alcança 90%. No curto prazo, chega a 88%. Um exemplo é a OGX, que vinha acompanhada por um alerta de venda. Semanalmente, é feita uma análise de uma carteira, que, em geral, contempla as queridinhas do mercado, como Vale e Petrobras. Esse trabalho é publicado por Raul Ikeda, sócio e diretor de segurança e informática, no site Mudanças Abruptas. ?Também estamos usando o IMA para detectar oscilações de commodities?, acrescenta.

 

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