27/11/2002 - 8:00
“Espero que vocês realizem verdadeiros negócios da China.?
Se a declaração fosse de um empresário brasileiro, seria apenas mais um chavão da indústria. Só que a frase foi proferida pelo chinês Luo Liecheng, diretor-geral do Ministério de Negócios Estrangeiros do governo local, na abertura da Brazil-China Trade Fair, que ocorreu em abril deste ano em Xangai. O comentário dá bem a medida de como vêm se estreitando as relações entre os dois países. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Econômico, as exportações para a China avançam a passos largos. No ano passado, alcançaram US$ 1,9 bilhão e apenas no acumulado
janeiro-setembro deste ano as vendas já somaram US$ 1,8 bilhão. Os negócios com o parceiro incluem desde produtos sofisticados como aviões da Embraer até minério de ferro da Vale do Rio Doce. Há ainda compressores da Embraco, carros da GM do Brasil e serviços na área de energia e construção pesada, com destaque para a construtora Mendes Júnior. As empresas não medem
esforços para atravessar o planeta. Para a GM, significa
US$ 1 bilhão a mais em exportação. A Mendes Júnior arregala os olhos para um mercado potencial de US$ 20 bilhões. A Vale estima ganhos de US$ 2 bilhões. E outras tantas batem à porta do mais populoso país do mundo animadas com a gradual abertura econômica e política da grande nação comunista (leia reportagem à página 56). ?Se for preciso, aprenderemos até mandarim?, anuncia Carlos Zignani, diretor da Marcopolo.
A fabricante de carroçarias de ônibus com sede em Caxias do Sul (RS) desembarcou em território chinês em 2001. Assinou contrato para fornecimento de tecnologia com a fábrica de ônibus da Iveco-CBC, instalada em Changzhou. O acordo já rendeu US$ 15 milhões à empresa brasileira. Segundo Zignani, o pacote incluiu ainda o treinamento de operários e técnicos chineses. O contrato assinado entre a Marcopolo e a Iveco-CBC é válido até 2007. A partir daí, a empresa brasileira fica livre para produzir localmente, através de associação com grupos locais.
Outra que está feliz da vida vendo seus produtos rodarem em Pequim é a GM do Brasil. As picapes S-10 e Blazer, produzidas em São José dos Campos, conquistaram os chineses e acabaram forrando o cofre da filial com US$ 1 bilhão. Trata-se do maior contrato de exportação já assinado pela empresa. Ele prevê o envio para a China de 270 mil conjuntos e peças de reposição dos dois modelos durante os próximos 10 anos. E mais: abriu caminho para um novo contrato de US$ 400 milhões para a venda de Corsa. ?A abertura de mercado da China foi bem planejada?, diz José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da GM. Apesar dos números grandiosos, o caminho que leva ao Oriente não é tão fácil assim. Há uma série de regras a cumprir e, em muitos dos casos, o governo chinês veta a participação estrangeira em determinados projetos. A lei é clara: primeiro eles, depois os forasteiros. Não por acaso, qualquer corporação estrangeira que queira brilhar na terra de Mao tem de se associar a grupos locais. Para vender minérios de ferro, a Vale do Rio Doce uniu-se a siderúrgica Baosteel. A Embraco, fabricante de compressores, também fez parceria com a Snowflake para atuar no setor de eletrodomésticos.
?O governo chinês é sempre sócio em qualquer empreendimento, indicando as empresas locais?, afirma José Mário Ferreira Filho, secretário do Itamaraty na Embaixada do Brasil em Pequim. ?A China é um mercado muito viável, mas que demanda tempo.? Que o diga Victório Semionato, diretor estratégico da Mendes Júnior. Para assinar o primeiro contrato com o governo chinês foram necessários três anos de intermináveis reuniões. A Mendes venceu em associação com a empresa Jiangnan a licitação para a obra de TSQ1, hidrelétrica de US$ 600 milhões finalizada no ano passado na província de Guangxi. Em 2003, a construtora mineira deverá participar de outros dois projetos de hidrelétricas. Cada um orçado em US$ 500 milhões. A China é o novo eldorado brasileiro.