O brasileiro Carlos Ghosn, CEO da Renault-Nissan, tem pela frente uma tarefa nada elementar: conter os danos causados do escândalo de espionagem industrial que atingem a tecnologia de carros elétricos da montadora francesa e possivelmente da companhia japonesa na qual foram investidos 4 bilhões de euros. Na semana passada, a Renault  entrou com uma ação em Paris acusando três de seus executivos, incluindo Michel Balthazard, um dos membros do conselho de administração. Além dele, foram acusados também Matthieu Tenenbaum, um dos responsáveis pelo seu programa de carros elétricos, e Bertrand Rochette, depois de uma investigação interna conduzida nos últimos cinco meses.

 

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Carlos Ghosn, ceo da Renault-Nissan, que investiga três de seus principais executivos na França

 

Dois dos suspeitos  teriam recebido propinas de 630 mil euros em contas no Lichtenstein e na Suíça, segundo a imprensa francesa. Os pagamentos teriam circulado por contas intermediárias em Xangai e no paraíso fiscal de Malta. 

 

Segundo o jornal Le Figaro, até o serviço de inteligência francês teria entrado na investigação, constatando que o comprador dos segredos seria uma empresa chinesa de distribuição elétrica. 

 

Nem o governo nem a Renault confirmam oficialmente as suspeitas.  O escândalo já provocou um incidente diplomático entre a China e o Estado francês, que detém uma participação de 15% no capital da Renault. 

 

“As acusações são sem fundamento e inaceitáveis”, afirmou o porta-voz do governo chinês, Hong Lei, na semana passada. Por seu turno, o porta-voz do governo francês, François Baroin, defendeu-se dizendo que a França não fez nenhuma “acusação oficial”. 

 

O enredo dessa história,  digno de Sherlock Holmes,  tornou-se mais intrincado com a possibilidade de envolver não apenas as montadoras, mas também informações proprietárias de alguns de seus parceiros estratégicos no desenvolvimento do mercado para carros elétricos. 

 

Os executivos acusados podem ter vazado segredos industriais de duas parcerias, uma com a LG Chem, subsidiária da coreana LG para o desenvolvimento de baterias, e outra com a  americana Better Place para a construção de redes de operação e abastecimento de carros elétricos. Por essa, nem Ghosn, o superexecutivo que recuperou a moribunda Nissan nos anos 1990, esperava. 

 

 

GM versus López

 

O caso mais famoso de espionagem industrial no setor automotivo mundial colocou a General Motors contra a Volkswagen, em 1992, quando o legendário engenheiro espanhol José Ignacio López de Arriortúa trocou a montadora americana pela alemã. A GM acusou Arriortúa de levar segredos e obteve indenização de US$ 1,1 bilhão da Volks.

 

Responsável pelo inovador modelo de produção da fábrica de caminhões da Volks em Rezende (RJ) “super López”, como era conhecido, continuou sendo perseguido pela GM, que chegou a pedir à Espanha sua extradição para os EUA. López aposentou-se em 1998, depois de um grave acidente automobilístico.