04/05/2022 - 8:32
Um avião militar russo voa por Berdiansk, no sudeste da Ucrânia, mas nenhum olhar temeroso se eleva para observá-lo. “Não se preocupe”, sorri uma mulher mais velha sentada em um banco. “É um dos nossos”.
As forças russas tomaram o controle dessa importante cidade portuária no Mar de Azov, a maior depois de Mariupol, nos primeiros dias de sua ofensiva, quase sem resistência.
A AFP esteve em Berdiansk e em Melitopol, 100 quilômetros a oeste, também conquistada no início da ofensiva, como parte de uma viagem organizada pelo exército russo.
Para a Rússia, as duas cidades têm importância estratégica porque, junto com Mariupol, lhe permitem assegurar uma continuidade territorial em direção à Crimeia, anexada em 2014.
Foram instaladas administrações pró-Moscou para se criar uma aparência de normalidade até que se decida sua sorte, que deverá passar por uma alguma forma de subordinação à Rússia.
“Estamos em uma fase de transição entre a Ucrânia e a Rússia”, explicou o chefe da nova administração de Berdiansk, Alexandre Saulenko. “Vemos o nosso futuro com a Rússia”, acrescentou.
A nova administração já decidiu pagar os salários dos funcionários e aposentadorias em rublos, a moeda russa, no lugar da grívnia ucraniana.
“O orçamento da cidade não nos permite garantir todos os pagamentos, portanto vamos buscar ajuda na Rússia”, acrescentou Saulenko.
Em Melitopol, uma bandeira comunista tremula sobre a Praça da Vitória em substituição à ucraniana. Um caminhão russo passa tocando canções patrióticas soviéticas.
Nessas duas cidades, a AFP não constatou nenhum rastro de combate ou destruição. Mariupol e os seus horrores estão a apenas 70 quilômetros a oeste de Berdiansk, mas o conflito parece muito longe.
“Todas as tropas abandonaram a cidade” antes da chegada das forças russas, comentou em Berdiansk Svetlana Klimova, de 38 anos, ex-funcionária de um posto de gasolina. “Se tivessem ficado, teria sido como em Mariupol”.
Como ela, vários habitantes consultados pela AFP dizem se sentir aliviados de terem escapado do destino da cidade sitiada. Mas estão contentes sob o comando de Moscou?
“Quando soube (da chegada dos russos) meus olhos encheram de lágrimas, estava feliz”, admite Valery Berdnik, um ex-estivador de 72 anos.
Com soldados russos armados que cercam o perímetro e, às vezes, escutam as entrevistas, é difícil que as pessoas expressem oposição.
Porém, em um sinal de que nem todos compartilham do entusiasmo de Berdnik, Berdiansk, que tinha mais de 100.000 habitantes antes da chegada dos russos, tem agora “entre 60.000 e 70.000 atualmente”, disse o novo prefeito.
Em Melitopol, “a cidade está dividida”, disse com prudência Elena, uma professora de 38 anos. “Há quem esteja contente e há quem que critica a situação”.
Em abril aconteceram manifestações contra a presença russa em Melitopol, cujo prefeito eleito foi sequestrado antes de ser trocado por prisioneiros russos, mas as marchas acabaram, assegurou outro residente.
