08/11/2022 - 13:39
Em McAllen, na fronteira sul dos EUA, fala-se espanhol, a mesma língua de milhares de migrantes que tentam, todos os dias, atravessar o México em busca de uma vida melhor. Aqui, no entanto, falar a mesma língua não significa entendimento mútuo.
Nesta terça-feira (8), os americanos votam nas eleições nacionais de meio de mandato para renovar as 435 cadeiras da Câmara de Representantes e um terço do Senado, além de eleger governadores e vários cargos locais.
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Nesta cidade, onde mais de 80% dos 140.000 habitantes são latinos, a maior preocupação é saber o que as autoridades farão diante da crescente migração que transborda suas fronteiras.
McAllen é a porta de entrada para o condado americano de Hidalgo. Uma ponte sobre o Rio Grande serve de acesso para centenas de carros à rodovia americana, e um gigantesco muro construído durante o governo de Donald Trump faz parte da paisagem.
Milhares de migrantes venezuelanos, cubanos, centro-americanos e haitianos tentam atravessar pontos proibidos e cruzar as águas para pisar em solo americano.
“Invasão Silenciosa”
Entre 1º de outubro de 2021 e 31 de agosto de 2022, 2,5 milhões de pessoas foram detidas, segundo dados do Escritório de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, na sigla em inglês). Deixam seus países afetados pela pobreza, pela violência e pelo desemprego. Mas isso nem sempre é bem visto no lado norte.
“Quebraram o sistema migratório (…) não há mais necessidade de haver postos de controle, ou pontes internacionais, embaixadas, consulados. Passam pelo Rio Grande, um monte de gente. Os Estados Unidos sofreram uma invasão silenciosa de 11 milhões de imigrantes em situação ilegal”, diz Francisco Cabral, de 71 anos, um trabalhador descendente de mexicanos, nascido e criado nos Estados Unidos.
Cabral se refere ao plano do governo Joe Biden de regularizar 11 milhões de migrantes que já vivem em solo americano. Se o democrata perder a maioria na Câmara e no Senado nesta terça-feira, suas iniciativas podem ficar complicadas.
McAllen é historicamente democrata, mas os conservadores ganharam terreno. Agora, uma candidata republicana, Monica De La Cruz, tem grandes chances de vencer pelo 15º distrito, o qual representa.
McAllen ganhou notoriedade em 2018 por seu centro de processamento de migrantes “Ursula”, com imagens de pessoas em instalações semelhantes a cercas, ou jaulas.
Clinton ao resgate
Este território é historicamente democrata, e Juanita Gonzales, uma dona de casa aposentada de 60 anos, espera que continue assim.
“Tenho esperança de que os democratas ganhem. É algo muito complexo, porque não vemos com muita clareza quais são as intenções tanto dos democratas quanto dos republicanos”, diz.
Ela se preocupa com o destino dos migrantes, porque “tanto emocional, quanto cultural e economicamente”, os cidadãos de McAllen se veem afetados e precisam de apoio.
Para os republicanos, a migração gerou insegurança, e a polícia de fronteira deveria ter mais recursos, porque as famílias de McAllen estão em risco.
Ciente do avanço rival, o ex-presidente democrata Bill Clinton foi a esta cidade para apoiar a empresária latina Michelle Vallejo.
Vallejo, comerciante, diz que McAllen pode oferecer muitas oportunidades, mas que são necessários investimentos. Clinton acredita, por sua vez, que os republicanos despertaram o ódio em relação à migração.
“Eles não querem que vocês pensem. Querem vocês com raiva, com medo, dividido, que vocês olhem para as outras pessoas e acreditem que as diferenças são mais importantes do que a humanidade. Não tem ‘minha família’, é um mito”, afirmou.
Para o ex-presidente, se uma pessoa teme por sua segurança e a de sua família em seu país de origem, as leis americanas devem permitir que ela sejam aceitos no território.