O montanhista brasileiro Vitor Negrete nunca se furtou a enfrentar desafios. E jamais se contentou com aqueles que atingira. Depois de conquistar o Aconcágua, pico mais alto das Américas, voltou para fazê-lo pela rota mais desafiadora. Após vencer o Everest, retornou para escalá-lo sem oxigênio suplementar. Era o tipo de esportista que acumula histórias de liderança, perseverança e frieza para administrar crises, que mais tarde costumam ser transplantadas com sucesso para o mundo dos negócios, por meio de palestras e consultorias. Sua escalada pessoal e profissional, porém, terminou prematuramente na sexta-feira 19. Negrete morreu horas depois de tornar-se o primeiro brasileiro a chegar aos 8.850 metros do Everest sem oxigênio extra. O experiente montanhista (38 anos de vida e 20 de escalada) teve problemas na descida e pediu ajuda por rádio a Dawa Sherpa, profissional de sua expedição que o esperava em um acampamento. Socorrido, chegou vivo à barraca, mas não resistiu ao frio e à exaustão e faleceu às duas horas da madrugada (horário do Nepal).

Casado e pai de dois filhos, o campineiro Negrete partiu para o ataque final ao cume do Everest na quinta-feira 18. Quando fez seu último contato com a redação da revista Go Outside (sua patrocinadora, ao lado da fabricante de equipamentos esportivos Try On) estava no acampamento avançado na montanha, a 8.300 metros de altitude, na face tibetana do maciço. Sozinho, com um companheiro de expedição já morto e sem bateria no telefone via satélite.

Engenheiro de alimentos, Negrete construiu um sólido currículo no montanhismo ao lado do parceiro de escaladas Rodrigo Ranieri – primeiros brasileiros a conquistar a técnica e traiçoeira Face Sul do Aconcágua, na Argentina. No ano passado, subiram juntos o Everest, mas só Negrete atingiu o cume. Ele não tinha medo, mas respeito pelos picos que escalava. Gostava de citar uma frase do alpinista Gregory Crowd: ?A montanha não é boa nem ruim. Ela simplesmente não se importa com o que fazemos em seus flancos.?