Em meio às pressões do Ministério de Minas e Energia (MME) para que a Petrobras mude sua política de reinjeção de gás em reservatórios de petróleo, o presidente da petroleira, Jean Paul Prates, voltou a endossar neste sábado, 24, o uso da tecnologia pela empresa, não apenas como forma de impedir a emissão de gás carbônico na atmosfera, mas também como uma ferramenta necessária para aumentar a produção de petróleo, elevando assim a arrecadação de tributos.

Em uma rede social, Prates postou um artigo defendendo a reinjeção de gás carbônico nos poços de petróleo, de autoria de Tiago Homem, gerente executivo de Reservatórios da Petrobras. O texto foi publicado pelo portal Metrópoles, e respostado por Prates em sua conta no Twitter.

No artigo, Tiago Homem defende que a prática tem “caráter técnico”, com objetivo de “garantir o melhor aproveitamento dos recursos energéticos brasileiros, sempre com respeito à segurança e ao meio ambiente, de forma a contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil”. O autor explica que a maior parte do gás natural produzido no Brasil está associado ao petróleo em campos do pré-sal, com grande teor de gás carbônico (CO2).

“Isso significa que, para produzir o petróleo do pré-sal, obrigatoriamente é extraído gás natural e CO2 entranhado no óleo. Esse CO2 que vem com o óleo não deve ser liberado na atmosfera por provocar efeito estufa. Logo, precisa ser reinjetado e o gás natural é justamente o veículo que leva o CO2 de volta aos reservatórios. Com esta operação realizada continuamente nas diversas plataformas do pré-sal, a Petrobras executa o maior processo de captura de carbono do mundo”, defendeu Tiago Homem.

O gerente da petroleira diz ainda que, “devido às condições específicas do pré-sal brasileiro, a reinjeção de gás proporciona um aumento na produção de petróleo e, portanto, gera maiores receitas e, consequentemente, maior arrecadação de tributos aos governos nos seus diferentes níveis, sendo a melhor solução para a sociedade”.

“Em projetos grandes como algumas plataformas do Campo de Búzios, na Bacia de Santos, a arrecadação de tributos poderia reduzir em até 25% se não houvesse reinjeção”, calculou o Tiago Homem.

O texto lembra ainda que a reinjeção de gás nos reservatórios vem sendo feita conforme projetos aprovados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e pela governança das grandes empresas parceiras que operam campos em parceria com a Petrobras.

“Sem injeção de gás, devido a menor produção de petróleo, alguns destes projetos não seriam sancionados pelas empresas (Petrobras e parceiras), devido aos indicadores econômicos piorarem bastante”, afirma o artigo. “Uma menor parte da produção é reinjetada por falta de mercado consumidor, um caso específico do sistema isolado da região Norte. Outra parte pequena da reinjeção se deve a limitações temporárias da capacidade de escoamento do pré-sal, que serão sanadas com a implantação do gasoduto da Rota 3 prevista para o próximo ano.”

O texto acrescenta ainda que o Brasil tem grandes reservas petrolíferas, mas volumes não muito significativos de gás, sendo a maior parte deles localizados em águas profundas e ultraprofundas, distantes da costa, o que demanda investimentos elevados até que chegue ao mercado consumidor.

A petroleira prevê aumentar, junto com outras empresas do setor, a oferta nacional atual de aproximadamente 40 milhões de m3 de gás natural por dia para o patamar de 60 milhões de m3/dia em 2027, conforme estimado por estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

“Este aumento inclui a entrada de novos campos de petróleo e gás e de novos gasodutos para escoar a produção, lembrando que o incremento previsto ajuda a substituir a produção de campos já em declínio natural. Esse volume não atende integralmente a demanda de gás do país. Por isso, é necessário importar gás da Bolívia via gasoduto e de outros países por meio de navios de Gás Natural Liquefeito – GNL”, defendeu Tiago Homem.

“Este é o volume que o país dispõe para atender, de fato, às necessidades reais da população e do mercado. Para viabilizar essa produção a 300 km da costa e, muitas vezes, a 6 mil metros de profundidade, são empregadas soluções de alta tecnologia e análises de reservatórios que consideram milhares de cenários para implementar o melhor projeto do ponto de vista técnico, de segurança e de maximização da oferta de recursos para o país. Cada projeto é aprovado pela ANP antes de sair do papel. É a chancela do governo federal para que a concessão dada pelo Estado tenha o melhor aproveitamento possível para a sociedade brasileira.”

No último dia 16, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), disse lutar diariamente para reverter a prática de reinjeção de gás pela Petrobras, mirando produzir mais gás para fornecer a grandes consumidores e fomentar a “reindustrialização” do País.

“A média mundial de reinjeção das petroleiras no mundo é bem menor. Os Estados Unidos reinjetam 12,5% do seu gás para impulsionar produção de petróleo. A África, 23,9%, e a Europa 24,7%. O Brasil reinjeta 44,6% do gás”, argumentou Silveira, na ocasião.