No mês mais frio do ano, negócios estão aquecidos. De 4 a 8 de março, Manhattan abre as portas da tradicional The Armory Show, a feira de arte moderna e contemporânea pioneira da cidade. Criada em 1994, a Armory chega à edição 2015 com foco na arte dos países do Oriente Médio e Norte da África e com o desafio de brecar a ascensão do prestígio da inglesa Frieze, que instalou filial em New York em 2012. Nesta entrevista exclusiva, o diretor executivo da Armory Noah Horowitz, historiador da arte e especialista em mercado de arte, afirma que curadores são imprescindíveis para o sucesso das feiras. “Mas não podemos perder de vista que a feira é uma empresa, não uma exposição de museu”.

Como a Armory Show, que fez 20 anos em 2014, se posiciona no novo mapa do mercado internacional? 

Você tem que se adaptar. Uma das razões para eu assumir a direção (a edição 2015, que acontece de 4 a 8 de março, será a terceira sob direção de Horowitz) foi para trazer energia e criar novas redes. A Armory é um legado no mercado norte-americano e tem grande apoio de colecionadores e instituições de todos os EUA, mas provavelmente cresceu mais do que devia. E o elemento curatorial fazia falta, assim como o espaço era apertado, você não conseguia realmente ficar parado para apreciar um trabalho. Redesenhamos a estética e a circulação dos espaços e reduzimos dramaticamente o número de galerias: de 270, no ano anterior ao que assumi, para 195 este ano.

O curador é cada vez mais fundamental para o sucesso de uma feira? 

Sim, mas temos que considerar que nos últimos 15 anos todo o sistema de arte passa por um processo de espetacularização. Feiras hoje são também experiências de estilo de vida, não só oportunidades de compra e venda. Como resultado desse processo, deixaram de ser empreendimentos totalmente comerciais para se tornar ambientes de interpenetração comercial, curatorial, não-comercial. Isso é parte do processo de profissionalização, diferenciação e validação. Por isso vemos mais e mais feiras convidando curadores. Eles fornecem bons filtros para guiar colecionadores, e para validar também. Frieze Masters e Artissima tem feito um grande trabalho nesse sentido. Uma das decisões que tomamos na Armory é que iríamos trabalhar com curadores convidados. Como Omar Kholeif, curador da Whitechapel Gallery, que vai fazer o Armory Focus: Middle Esat, North Africa and the Mediterranean.

Como a Armory foi afetada pela chegada a NY da Frieze de Londres?

Para o mercado primário, a primeira semana de março é a mais importante em Nova York, em termos de aberturas em museus e instituições, que programam suas melhores exposições para essa época. A Frieze ancorou sua feira em maio, no mês dos leilões em NY. Mas a Armory despertou para a necessidade mudar. E, verdadeiramente, parte das razões por eu ter meu emprego é o fato da Frieze ter chegado. Mas como Nova York ainda é o principal centro comercial para a arte contemporânea do pós-guerra, pode sustentar duas grandes feiras comerciais.

Quais as feiras mais importantes do novo mapa mundial?

Art Dubai é um grande exemplo de como construir algo do nada, a partir de uma infra-estrutura muito limitada. Comercialmente não tenho certeza se eles são muito bem sucedidos, mas sim em termos de projeto curatorial, que também destaco a Artissima (Torino, Itália) e da ABC (Berlim, Alemanha). Mas o mais importante é que feiras de arte ainda são empreendimentos comerciais e tem que ser plataformas fortes de venda, como a Armory é. Há algumas falsas economias que emergem por aí, onde você vê feiras efetivamente substituindo bienais, recebendo subsídios de dinheiro público para trazer cultura para a cidade, onde galerias não pagam stands… Isso é bom, mas não é sustentável. Não podemos perder de vista que a feira é uma empresa, não uma exposição de museu.