Parece que o espírito de Juscelino Kubistchek tomou conta da família Milano, dona da Livraria Nobel. Em cinco anos, eles planejam erguer no exterior o que levaram mais de 50 anos para implantar no Brasil. Fundada em 1943 pelo imigrante italiano Claudio Milano, a Nobel tornou-se a maior rede de livrarias em operação no País, com 140 pontos de vendas. Pois até 2010, a empresa pretende fincar em diversos países de quatro continentes mais de 300 totens com seu tradicional logotipo amarelo e preto. ?Seremos maiores lá fora do que aqui dentro?, diz Sérgio Milano, neto de Claudio e responsável pelo comando da companhia atualmente. O mais ambicioso passo rumo ao exterior acaba de ser dado, com a parceria firmada com o grupo espanhol Arnoia, dono de cinco livrarias na região da Galícia. Até março, todas elas serão rebatizadas com a marca Nobel. A partir daí, os executivos do Arnoia sairão à caça de investidores interessados em adquirir franquias da livraria brasileira. A meta é espalhar 120 pontos por toda a Espanha.

Não se trata da primeira incursão da Nobel para além das fronteiras brasileiras. Em 2004, nomeou um masterfranqueado em Portugal. Desde então, cinco livrarias abriram suas portas no País ? o objetivo é expandir esse número para 70. Outro alvo é o mercado americano. Nesse caso, o plano de Milano prevê a abertura de uma loja dirigida primordialmente ao público latino. ?Há 60 milhões de hispânicos e brasileiros vivendo nos EUA?, conta Milano. ?Eles serão nossos clientes.? Países africanos e latino-americanos como Argentina, Colômbia e principalmente México também estão na mira. ?Já estamos negociando com um investidor mexicano para chegar ao país?, diz Milano. Mais: um ex-dekassegui, hoje franqueado da Nobel no Brasil, pretende levar a marca para o Japão, onde um de seus irmãos mora.

O próprio nome já é um convite para a internacionalização, pois é familiar em qualquer país, graças à notoriedade de Alfred Nobel, o inventor da dinamite, e sobretudo ao Prêmio Nobel, instituído por ele. Mas o grande empurrão rumo ao exterior veio da falta de expansão do consumo de livros no Brasil. ?Os espaços existentes estão tomados?, diz Milano. Em 2005, menos de 20 milhões de brasileiros compraram pelo menos um livro. Nos Estados Unidos, essa proporção é vinte vezes maior. Em outros países, a concorrência também não está tão enraizada. Em Portugal, por exemplo, a maior rede de livrarias possui 25 pontos, diz Milano. A FNAC tem apenas oito lojas no país. ?Nossa principal arma será o modelo de franquia que utilizamos no Brasil?, afirma Milano.

A Nobel tornou-se, em 1993, a primeira livraria do mundo a implantar um sistema de franquia, conta ele. Esse foi o principal fator de crescimento da rede. Hoje, dos 140 pontos espalhados pelo Brasil, a família Milano aparece como acionista em três ? e, mesmo assim, são operados por franqueados. Nesse processo, o clã se desfez de 17 lojas. ?O faturamento cresceu 20% depois da transição?, garante Milano. ?Nosso sistema apresenta vantagens sobre os modelos de franquias tradicionais.? A principal vantagem, segundo ele, reside na liberdade do franqueado. ?Apenas 5% das receitas das lojas vêm de produtos da Editora Nobel. Ao contrário de outras franquias, não impomos o mix de produtos nem obrigamos os donos de loja a vender apenas livros de nossa editora?, afirma. As compras, no entanto, são centralizadas para garantir poder de barganha com os fornecedores. Mas cada franqueado pede aquilo que interessa ao seu público. Também cabe a ele decidir o tamanho da loja. Por isso, o faturamento varia de R$ 20 mil a R$ 500 mil por mês em uma livraria com a placa Nobel. ?Será exatamente esse modelo que levaremos para o exterior. Garantiu nosso sucesso aqui e vai garantir nosso triunfo lá fora?, diz Milano.