10/12/2010 - 5:29
Diante de uma cadeira vazia para simbolizar a ausência de Liu Xiaobo, o Comitê Nobel realizou nesta sexta-feira, em Oslo, a cerimônia de entrega do Prêmio Nobel e pediu publicamente à China que liberte o dissidente chinês condenado a 11 anos de prisão.
“Liu só exerceu seus direitos cívicos. Ele não fez nada de ruim. Ele deve ser libertado”, declarou o presidente do Comitê Nobel, Thorbjoern Jagland, enfatizando que a Constituição chinesa garante oficialmente a liberdade de expressão e o direito de criticar o aparelho de Estado.
Ao terminar seu discurso, Jagland pousou simbolicamente o diploma e a medalha do Nobel da Paz 2010 numa cadeira vazia. Junto à cadeira, havia um grande retrato de Liu sorridente.
“Muitos perguntarão se, apesar de seu poderio atual, a China não mostra certa fragilidade ao considerar necessário prender um homem durante 11 anos pelo mero fato de ter expressado suas opiniões sobre a forma como se deve governar o país”, acrescentou Jagland.
“A pena severa infligida a Liu fez dele algo mais que um porta-voz central dos direitos humanos. Quase de um dia para o outro ele virou símbolo, tanto na China quanto no exterior, da luta por esses direitos na China”, enfatizou.
O pedido de liberdade para Liu foi repetido em várias partes do mundo durante a cerimônia.
O presidente americano, Barack Obama, afirmou que Liu Xiaobo representa valores universais, e pediu à China que o liberte o quanto antes possível.
Obama, que recebeu o Nobel da Paz no ano passado, disse, em um comunicado, que “o senhor Liu Xiaobo merece muito mais este prêmio do que eu”.
“Os valores que defende são universais, sua luta é pacífica e ele deveria ser libertado o quanto antes possível”.
“Lamento que se negue ao senhor Liu e a sua esposa esta oportunidade de assistir à cerimônia, à qual Michelle e eu fomos no ano passado. Hoje também é o Dia Internacional dos Direitos Humanos, e deveríamos redobrar nossos esforços para promover os valores universais para todos os seres humanos”.
A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, também pediu sua libertação.
“Reitero meu pedido para sua libertação imediata”, afirmou Ashton, que já havia solicitado ao governo chinês que soltasse o dissidente quando seu nome foi anunciado como ganhador do Nobel da Paz.
“Neste dia dedicado aos defensores dos direitos humanos no mundo, penso em Liu Xiaobo”, afirmou a chefe da diplomacia europeia.
O ministério chinês das Relações Exteriores, por sua vez, criticou o que chamou de “teatro político” do Comitê Nobel.
“Esse tipo de teatro político jamais fará vacilar a determinação do povo chinês no caminho do socialismo com características chinesas”, declarou o porta-voz do ministério, Jiang Yu, em um comunicado que também faz menção a uma certa “mentalidade de guerra fria”.
A cerimônia de entrega simbólica do prêmio Nobel da Paz, exibida ao vivo em vários países, foi censurada na China. Sem causar surpresas, as telas dos canais de televisão estrangeiros BBC, CNN e TV5 saíram do ar no momento do início da cerimônia.
Durante todo o dia, as autoridades chinesas bloquearam a transmissão dos programas de televisão estrangeiros sobre a entrega do Nobel. Os sites e vários outros meios de comunicação também foram censurados.
A China mobilizou muitos recursos para que a entrega simbólica em Oslo do Nobel da Paz ao dissidente passasse em branco para os 1,3 bilhão de habitantes do país.
Cinquenta chineses residentes na Noruega se manifestaram nas imediações do Parlamento norueguês momentos antes do início da cerimônia para protestar contra a entrega do prêmio.
“Criminoso = premiado com o Nobel da Paz?” era uma das frases em uma faixa exibida pelos manifestantes.
“Não concordamos com muitas coisas que escreveu. Quer transformar a China segundo o modelo americano”, disse à AFP um dos manifestantes, Ya Ming.
Esta semana, a Anistia Internacional acusou as autoridades chinesas de estarem organizando a manifestação e de terem pressionado os chineses que moram em Oslo para que participassem, mas os manifestantes negaram que isto tenha acontecido.
Liu Xiaobo foi uma das principais figuras do movimento democrático da Praça da Paz Celestial de 1989. Em dezembro de 2009, foi condenado a 11 anos de prisão por “subversão ao poder do Estado”, depois da publicação da “Carta 08”, texto do qual foi um dos autores e que pedia a democratização da China.
str/ap/fp/cn