28/12/2010 - 10:40
Ganhador do prêmio Nobel da Paz 2010, o chinês Liu Xiaobo comemorou seu 55º aniversário, nesta terça-feira, em uma prisão do nordeste da China, incitando apelos renovados de grupos de defesa dos direitos humanos por sua libertação imediata.
O escritor e professor Liu foi sentenciado no dia de Natal do ano passado a cumprir pena de 11 anos de prisão por acusações de subversão por ser um dos autores do “Charter 08” (Carta 8, numa tradução livre), uma audaciosa petição na qual ele e seus companheiros demandavam reformas políticas no Partido Comunista chinês.
Ele foi nomeado ganhador do Nobel da Paz em outubro passado, provocando a fúria de Pequim, que comparou a decisão do comitê Nobel, em Oslo, como um encorajamento ao crime. A entrega do prêmio, à qual Liu não pôde comparecer, foi celebrada em 10 de dezembro na capital norueguesa.
O grupo Defensores dos Direitos Humanos Chineses (CHRD, na sigla em inglês), uma rede de ativistas baseada em Hong Kong, anunciou que queria “aproveitar a oportunidade para desejar a Liu Xiaobo um feliz aniversário e novamente pedir sua libertação imediata e incondicional”.
Em um comunicado, o grupo lembrou que Liu estava passando seu aniversário na remota prisão de Jinzhou, na província de Liaoning (nordeste) pela primeira vez, e que não havia sido libertado para comemorar a data nos últimos dois anos.
Em 2009, ele estava em um centro de detenções de Pequim após ter sido senteciado, e em 2008, esteve sob vigilância policial nos arredores da capital chinesa.
Os grupos de direitos humanos denunciaram que as visitas familiares a Liu na prisão foram suspensas, apesar de a lei chinesa garantir uma visita mensal.
Catherine Baber, vice-diretora do programa da Anestia Internacional para a região da Ásia-Pacífico, disse que tanto Liu quanto sua esposa, Liu Xia, que permanece em prisão domiciliar em Pequim, deveriam ser libertados.
“Com a proximidade do Ano Novo, devemos reiterar nosso apelo por sua libertação e a de sua esposa”, disse Baber à AFP.
“Sua permanência na prisão pôs em dúvida o compromisso do governo chinês a manter padrões internacionais de respeito aos direitos humanos e a continuidade da reforma legal”, emendou.
Quando perguntada sobre uma resposta aos apelos pela libertação de Liu, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Jiang Yu, disse a jornalistas que a “China é um país que obedece a lei. As autoridades competentes trabalharão de acordo com a lei”.
“Acredito que as autoridades judiciárias chinesas salvaguardarão a soberania judicial chinesa”, disse Jiang.
O presidente americano, Barack Obama, ganhador do Nobel da Paz no ano passado, liderou os apelos internacionais pela libertação de Liu, que havia sido detido anteriormente por seu envolvimento nos protestos na Praça da Paz Celestial, em 1989.
As tentativas da AFP de contatar Liu Xia, esposa de Liu Xiaobo, por telefone esta terça-feira foram mal sucedidas.
Segundo o CHRD, o telefone e as conexões pela internet de Liu Xia permaneciam bloqueados e pediram para que todas as restrições à sua libertação sejam suspensas.
“Não há basicamente bases legais para nenhuma das medidas adotadas contra ela pelas autoridades de Pequim”, acrescentou o grupo.
“O CHRD está preocupado com que Liu Xia possa continuar em prisão domiciliar ilegal por um período estendido e reiteramos nosso apelo pelo fim imediato de sua perseguição”, continuou.
O advogado de Liu, Shang Baojun, disse à AFP que também não tem conseguido contatar Liu Xia.
“Não consigo manter contato com ela. Eu falei com sua família na semana passada. Ela ainda está em sua casa em Pequim. Ela está bem, mas não há novidades”, contou Shang à AFP por telefone.
“Liu Xia está sendo punida apenas por ser esposa dele”, disse Baber, da Anistia Internacional.
A organização de defesa da liberdade de imprensa Repórteres sem Fronteiras (RSF), com sede em Paris, disse que o tratamento dispensado pela China a Liu como se fosse um “criminoso perigoso” era uma “mancha” à sua reputação internacional.
“Esperamos que Liu Xiaobo possa comemorar, no ano que vem, seus 56 anos em liberdade e com sua família”, desejou a entidade em comunicado enviado à AFP.
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