06/10/2025 - 7:04
Descobertas dos pesquisadores americanos Mary E. Brunkow e Fred Ramsdell e do japonês Shimon Sakaguchi foram consideradas decisivas para compreensão do funcionamento do sistema imunológico.Os pesquisadores americanos Mary E. Brunkow e Fred Ramsdell e o japonês Shimon Sakaguchi venceram o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2025 por diferentes descobertas relacionadas à tolerância imunológica periférica, que impede o sistema imunológico de causar danos ao corpo. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (06/10) pelo secretário-geral da Assembleia do Nobel, Thomas Perlmann, em Estocolmo, na Suécia.
Segundo a organização, os laureados identificaram o que chamaram de “guardas de segurança” do sistema imunológico, as células T reguladoras, um mecanismo que inibe as demais células imunológicas de atacarem o próprio corpo, como ocorre nas doenças autoimunes.
Todos os dias, o sistema imunológico protege o corpo de milhares de microrganismos diferentes. Muitos, porém, desenvolveram semelhanças com as células humanas como forma de camuflagem, explica a comitê do Prêmio Nobel. A pesquisa dos três cientistas identificou a forma como o sistema determina o que deve atacar e o que deve defender, abrindo as bases para um novo campo de pesquisa.
“Suas descobertas foram decisivas para nossa compreensão de como o sistema imunológico funciona e por que nem todos desenvolvemos doenças autoimunes graves”, afirmou Olle Kämpe, presidente do Comitê Nobel.
Por que a descoberta é importante
Nas décadas de 1980 e 1990, Shimon Sakaguchi desenvolveu uma série de estudos para entender como o corpo humano seria capaz de identificar organismos invasores.
O sistema imunológico possui mecanismos sobrepostos para detectar e combater bactérias, vírus e outros agentes nocivos. As células T são treinadas para identificar esses invasores. Se algumas delas saem do controle e passam a atingir tecidos do próprio corpo, elas devem ser eliminadas no timo, um processo chamado de tolerância central.
Contudo, Sakaguchi identificou uma forma adicional pela qual o corpo mantém o sistema sob controle, a tolerância imunológica periférica, desvendando um novo subtipo de células T, hoje chamados de linfócitos reguladores, ou Tregs.
A confirmação da existência das Tregs avançou em 2001, quando Brunkow e Ramsdell descobriram uma mutação causadora em um gene chamado Foxp3, que também desempenha um papel em uma rara doença autoimune,
Dois anos depois, Sakaguchi conectou as descobertas ao demonstrar que o gene Foxp3 controla o desenvolvimento dessas Tregs.
O reconhecimento deste tipo de atuação resultou em diversos avanços nos estudos do sistema imunológico, contribuindo inclusive para uma nova compreensão sobre o tratamento de doenças autoimunes e como o corpo reage a processos de inflamação ou infecção.
“Suas descobertas levaram ao desenvolvimento de potenciais tratamentos médicos que estão agora sendo avaliados em ensaios clínicos. A esperança é poder tratar ou curar doenças autoimunes, fornecer tratamentos mais eficazes para o câncer e prevenir complicações graves após transplantes de células-tronco”, diz o comitê do Prêmio Nobel.
Premiação
O Nobel será entregue aos vencedores em Estocolmo em 10 de dezembro, data do aniversário da morte de Alfred Nobel, criador da premiação. Eles deverão receber um prêmio em dinheiro no valor de cerca de 1,2 milhão de dólares.
Desde 1901, 229 pessoas receberam o Nobel de Medicina. Nenhum vencedor foi premiado mais de uma vez.
Em 2024, o prêmio foi para os americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun pela descoberta do microRNA, uma nova classe de moléculas de RNA que desempenham papel crucial na regulação genética.
A descoberta é considerada um princípio fundamental para explicar como a atividade genética de organismos multicelulares é regulada – inclusive de seres humanos. Em outras palavras, essas micromoléculas ajudam células dos músculos, do intestino e diferentes tipos de células nervosas a desempenharem suas funções específicas.
Em 2023, Katalin Karikó e Drew Weissman receberam o prêmio por terem desenvolvido a tecnologia de RNA mensageiro que abriu caminho para as vacinas contra a covid-19 da Pfizer/BioNTech e da Moderna. No ano anterior, a sueca Svante Pääbo venceu pelo sequenciamento do genoma dos neandertais e a criação da paleogenômica.
Já em 2021, os americanos David Julius e Ardem Patapoutian ganharam o Prêmio Nobel por descobertas sobre receptores de calor e tato na pele.
O Prêmio Nobel de Medicina é o primeiro a ser anunciado entre as homenagens a pesquisadores, cientistas, escritores e personalidades em seis categorias. Na terça-feira, será a vez do Nobel de Física; quarta, o de Química; quinta, o de Literatura. O Prêmio Nobel da Paz será anunciado na sexta-feira, e o de Economia, na próxima segunda-feira.
gq/cn (Reuters, APF, ots)