O economista estadunidense e vencedor do prêmio Nobel Joseph Stiglitz publicou um artigo de opinião no jornal online Project Syndicate sobre como a União Europeia (UE) deveria conduzir as negociações com Donald Trump. Ele encerra o texto com um conselho para que o bloco econômico imite a postura do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do chinês Xi Jinping.

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“Quando o presidente chinês Xi Jinping enfrentou Trump, o americano recuou. Mas recentemente, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que algumas coisas não são negociáveis: a soberania de seu país, a dignidade, o Estado de Direito e a democracia. A UE deveria fazer o mesmo”, escreve Stiglitz.

O economista acusa o presidente Donald Trump de não cumprir acordos, recordando como ele assinou documentos com o Canadá e o México durante seu primeiro mandato que, rapidamente, foram descartados no começo do mandato atual. “Qualquer acordo com Trump deve ser considerado, na melhor das hipóteses, uma trégua temporária”, escreve.

Stiglitz critica ainda as tentativas de acordo entre UE e os Estados Unidos por colocarem os países europeus em uma desvantagem que não condiz com sua importância econômica. Ele cita o fato de que a Europa tem uma população 30% maior  e uma economia menor por uma pequena margem, o que deveria garantir simetria.

O que UE e Trump estão discutindo

No texto, Joseph Stiglitz rememora o acordo comercial entre Estados Unidos e União Europeia anunciado em 27 de julho na cidade de Turnberry, Escócia. O documento não foi assinado.

Stiglitz critica o projeto de acordo por manter “tarifas injustas sobre importações europeias” e por conter um compromisso de que a UE “investiria nos EUA e na compra de energia estadunidense”. A UE é um bloco econômico, e não uma economia de planejamento central como ocorre com um país. Assim, seus acordos não podem forçar investimentos por parte dos países membros.

“Os números de Turnberry foram oferecidos meramente para aplacar Trump, permitindo que ele se vanglorie por usar o poder americano para colecionar outro troféu e extrair mais valor das cadeias produtivas globais. Quem se importa se a lei internacional foi pisoteada? Isto é simplesmente o que grandes potências fazem. Veja a Rússia, com sua guerra de conquista contra um vizinho pacífico”, ironiza Stiglitz.

A escrita do texto ocorre no momento em que outro desafio impõe-se entre a UE e os EUA. O bloco europeu discute no momento uma regulamentação para o setor digital, que deve impor regras sobre todas as redes sociais em operação no bloco, inclusive as americanas. Apesar de o texto não estar concluído, Trump já acusa a proposta de ser uma tentativa de sabotar as empresas estadunidenses.

“Esta regulamentação não é discriminatória contra os Estados Unidos e suas gigantes de tecnologia. Elas são aplicadas uniformemente sobre todas as empresas operando na UE”, afirma Stiglitz. “Eu e muitos outros nos preocupamos que essas regras não sejam duras o suficiente. As gigantes de tecnologia ainda exercem poder demais, fazem pouquíssima moderação e continuam a abusar dos direitos à privacidade.”

Quem é o Nobel de economia Joseph Stiglitz

Laureado com o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 2001, Joseph E. Stiglitz tem uma carreira dupla como  pesquisador de ponta e conselheiro político. Já ocupou cargos de grande influência, como economista-chefe do Banco Mundial (1997-2000) e presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente Bill Clinton (1995-1997).

A principal contribuição teórica de Stiglitz foi sua análise dos mercados com informação assimétrica. Ele demonstrou que, ao contrário dos modelos econômicos clássicos que pressupõem que todos os agentes têm acesso à mesma informação, na realidade uma das partes em uma transação (como um vendedor de carros usados ou um banco que concede um empréstimo) frequentemente sabe muito mais do que a outra.

Essa assimetria leva a “falhas de mercado”, provando que os mercados, deixados por si sós, não são necessariamente eficientes ou estáveis. Com base nisso, Stiglitz tornou-se um defensor da necessidade de regulação governamental para corrigir essas falhas, especialmente no setor financeiro.