Nome preferido do governador eleito de São Paulo, João Doria, para assumir a presidência nacional do PSDB em maio, quando a sigla realizará sua convenção, o deputado federal Bruno Araújo (PE) defende que o partido assuma uma posição mais conservadora nos costumes.

“O PSDB não pode ter o receio de fazer inflexões a pautas mais conservadoras, como, por exemplo, a redução da maioridade penal, que tem apoio da maioria da sociedade e que recebeu votos na Câmara da imensa maioria do partido”, disse Araújo ao jornal O Estado de S. Paulo.

Ele também defende a garantia de posse de arma nas áreas rurais – bandeira que mobiliza a base do presidente eleito, Jair Bolsonaro -, sugere a adoção de cotas sociais em substituição às cotas raciais, quer “racionalidade na pauta ambiental” e enxugamento do Estado.

A proposta de Araújo contraria o discurso social-democrata histórico do partido, coincide com o projeto de Doria de “tirar o PSDB do muro” e coloca a sigla no centro do debate nacional com uma agenda mais à direita do que a historicamente seguida pelos tucanos.

Doria e Araújo também advogam que o partido vote favoravelmente projetos que Bolsonaro apresente no Congresso e não se opõem aos convites feitos a tucanos para integrar o governo – ao menos quatro assumirão cargos na gestão federal.

Já a atual direção do PSDB e nomes históricos do partido, como o senador José Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, são contra a essa mudança de discurso e também contra o embarque na administração federal. Em entrevista à revista Veja, FHC declarou que, “se o PSDB virar uma sublegenda do governo, qualquer governo, estou fora”.

Entre aliados de Doria, a avaliação é que o embate de gerações será inevitável. “Não pedimos para ninguém sair, mas a sintonia com a vontade da sociedade vai delinear quem fica e quem sai do partido. O novo PSDB que eu, Bruno Araújo e Doria defendemos é um partido atualizado com a sociedade. Essa ala que resiste a isso precisa entender que o mundo mudou”, disse o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, que deve integrar a próxima executiva nacional.

Sucessão

Quando questionado sobre a sucessão de Geraldo Alckmin na presidência do PSDB, Araújo desconversa, mas deixa claro quem ele acredita que vai dar as cartas. “Estamos nos primeiros momentos de discussão interna. Temos tempo. Doria é o mais importante protagonista dessa discussão.”

O deputado pernambucano, que integra a atual executiva do PSDB, se diz contra a refundação ou fusão do partido, tese defendida por uma ala tucana liderada pelo deputado Marcus Pestana (MG), hoje secretário-geral do partido.

João Doria, que defende que o PSDB não seja mais um partido “de centro-esquerda” (como na fundação), conta com o apoio dos demais governadores tucanos e da maioria do partido para eleger Bruno Araújo presidente em maio.

O grupo de Alckmin, porém, tenta construir uma alternativa. O senador Antonio Anastasia (MG) era a primeira opção, mas declinou. A ideia agora é lançar o senador Cássio Cunha Lima (PB) para tentar barrar o avanço de Doria.

Além da convenção, o PSDB realizará também em maio um congresso nacional no qual vai modificar seu estatuto e atualizar seu programa partidário. Essa será a arena de debates que pode rachar o partido.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.