Um tribunal de Paris condenou nesta quarta-feira o ex-ditador panamenho Manuel Antonio Noriega a 7 anos de prisão por lavagem de dinheiro do narcrotráfico na França.

A 11a. sala do tribunal correcional de Paris ordenou igualmente a apreensão de 2,3 milhões de euros das contas de Noriega bloqueadas na França.

A promotoria havia pedido dez anos de prisão, a pena máxima, para o ex-homem forte do Panamá.

“O Tribunal estima que existem suficientes elementos que permitem estabelecer que esses fundos proveem do tráfico de drogas”, afirma o auto em relação ao réu, que também foi condenado em 1992 por um tribunal da Flórida, Estados Unidos.

Noriega, homem forte do Panamá entre 1983 e 1989, espião da Agência Central de Inteligência (CIA) americana vinculado então a Pablo Escobar, chefe do cartel de Medellin e com Fidel Castro, foi derrubado por uma violenta invasão das tropas americanas.

Capturado e transferido para os Estados Unidos, foi condenado a 40 anos de prisão por tráfico de entorpecentes, pena depois reduzida a 17 anos por bom comportamento.

Alertada pelos Estados Unidos, a França começou a investigar a origem do dinheiro de várias contas que Noriega, sua esposa Felicidad e suas filhas, tinham na França nos anos 80, em sucursais do BCCI, CIC e BNP, entre outros.

Segundo testemunhos recolhidos pela justiça americana, utilizados no julgamento iniciado na semana passada, em Paris, “desde 1982 até o final de 1984, Noriega esteve diretamente vinculado ao tráfico de cocaína entre Colômbia e Estados Unidos, recebendo seu pagamento por autorizar a passagem pelo Panamá dos aviões com drogas”, afirmou o Tribunal nesta quarta-feira.

Usando terno preto, camisa e gravata brancas, Noriega esteve presente na audiência, assim como suas iflhas Lorena, Sandra e Thays, que se aproximaram dele logo depois de lida a sentença.

Visivelmente abatido e surpresa com a sentença, segundo seus advogados, Noriega foi levado novamente para a prisão parisiense de La Santé, onde aguardará os próximos passos de seus defensores.

Depois de considerar a condenação muito severa, Yves Leberquier, um dos advogados de defesa, se declarou decepcionado porque nada no expediente permite julgá-lo em sua qualidade de ex-chefe de Estado e porque “nada demonstra que as somas de dinheiro vinham do tráfico de drogas”.

“É uma decisão de conotação política (…) uma posição que agrada, sem dúvida, as autoridades americanas”, declarou Olivier Meztner, renomado jurista, outro advogado de Noriega.

Depois de indicar que a defesa tem dez dias para recorrer da decisão do Tribunal, Metzner enfatizou que curiosamente as autoridades francesas ainda não notificaram a Noriega sobre o pedido de extradição apresentado no início de junho pelas autoridades panamenhas.

“De todas as formas se busca atrasar a libertação ou a volta do general Noriega a seu país”, afirmou o advogado.

Ambos juristas poderão solicitar nas próximas semanas a liberdade condicional de Noriega antes de fazer cálculos “minuciosos”, segundo Metzner, sobre o tempo que ele deverá cumprir efetivamente a sentença, levando em conta os 32 meses que esteve detido em Miami à espera de sua extradição para a França, aonde chegou em 27 de abril passado.

Em 1999, o mesmo tribunal condenou Noriega à revelia a 10 anos de prisão, a pena máxima pelo delito de lavagem.

O Tribunal também o condenou a uma multa de 2,3 milhões de euros e a pagar um milhão de euros ao Panamá “em termos de reparos pelo prejuízo moral e material” causados, uma vez que o comportamento de Noriega “atentou contra a honra” da República do Panamá.

“O Estado do Panamá avaliará a sentença. Não se trata de ficar satisfeito ou não”, respondeu o cônsul do Panamá, Arístides Gómez de León, que, no entanto, admitiu que esta multa é melhor que o franco simbólico que o Panamá recebeu em 1999.

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