23/09/2002 - 7:00
Na estrada que liga o Aeroporto de Gardermoen ao centro de Oslo, capital da Noruega, a paisagem é surpreendente para olhos habituados ao cenário brasileiro. O trânsito corre ágil e comportado. A via é ladeada por construções modernas que convivem com casinhas típicas cercadas por jardins bem cuidados. Quarenta minutos depois, já no centro da cidade, não se vê pedintes nas ruas impecavelmente limpas e seguras. Esse é o lado visível de um número frio divulgado anualmente pela ONU: o Índice de Desenvolvimento Humano, um ranking no qual a Noruega ocupa a primeira colocação. ?Nossa renda é muito bem distribuída e por isso vencemos pelo segundo ano consecutivo?, disse à DINHEIRO Kare Stormark, do Ministério de Relações Exteriores da Noruega. O salário médio na terra dos vikings é de US$ 35 mil a US$ 40 mil por ano.
Quem ganha mais paga mais imposto. Um advogado que recebe US$ 200 mil anuais, por exemplo, deixa nas mãos do Leão 45% do seu salário. Já quem embolsa US$ 30 mil paga 30% ao fisco. A carga tributária é alta, mas não altera a expressão de tranqüilidade nos rostos das pessoas que passeiam sob um sol ameno pelo Aker Brygge, o cais que reúne charmosos restaurantes e bares freqüentados pelos moradores de Oslo.
Todas as necessidades básicas são garantidas pelo Estado. O ensino é gratuito até a universidade. A qualidade é tão boa que até os príncipes da Noruega estudaram nos colégios públicos. Os hospitais, médicos e dentistas dispensam pagamento. A mulher que dá a luz também conta com benefícios. Recebe US$ 400 por mês até a criança completar 3 anos de idade e US$ 150 até o filho completar 16 anos. Estudantes que terminam o 2.º grau e querem sair de casa têm direito, por lei, a receber do governo US$ 10 mil: US$ 7 mil emprestados a juros de 7% ao ano e US$ 3 mil simplesmente doados. Mesmo os imigrantes não ficam desamparados. O governo destina 1% do PIB, o equivalente a US$ 2 bilhões, para ajudar os recém-chegados. Esse não é o caso do brasileiro Silvanir de Oliveira Júnior, que mora em Oslo há dois anos. ?Eu casei com uma norueguesa e vim para cá?, diz ele. No Brasil, ele trabalhava no setor de autopeças e recebia R$ 800 por mês. Hoje ele atua na área de logística de uma editora e ganha essa mesma quantia em três dias. ?Aqui eu sou respeitado independentemente do meu poder aquisitivo?, diz ele. Detalhe: na Noruega é considerado miserável quem ganha US$ 12,5 mil por ano. Por essas razões, a expectativa de vida no país é de 77 anos enquanto no Brasil é de 67 anos. Até os criminosos, raridade no País, recebem tratamento digno. O Estado é obrigado a pagar o advogado que o acusado escolher. Caso condenado, terá uma cela privativa.
O grande salto na qualidade de vida da Noruega ocorreu na década de 60, graças a fortes investimentos no setor energético e à descoberta de uma grande reserva de petróleo no Mar do Norte. Hoje 90% da energia consumida vem de hidrelétricas. O país é o terceiro maior exportador de petróleo do mundo e o líder no comércio de pescados. Impulsionado por esses setores, o PIB atingiu US$ 200 bilhões em 2001. Parte dessa riqueza vai para uma espécie de poupança, chamada Fundo do Petróleo. Estima-se que dentro de 40 a 60 anos, as reservas de óleo da Noruega se esgotem. Para continuar mantendo o padrão de vida de sua população, as estatais de petróleo são obrigadas a destinar uma porcentagem de seus lucros para um fundo de ações e imóveis, cujo patrimônio hoje soma cerca de US$ 100 bilhões. É a garantia de que a Noruega continuará a ser uma forte candidata ao título de melhor IDH do mundo.