12/07/2013 - 21:00
Convocado com antecedência pelas centrais sindicais, o Dia Nacional de Lutas levou, na quinta-feira 11, cerca de 7.000 manifestantes à Avenida Paulista. Por volta do meio-dia, essa pequena multidão atrapalhava o trânsito. Movimentos barulhentos e despovoados também perturbaram o direito de ir e vir em várias outras capitais em todo o Brasil. Apesar da profusão de bandeiras no sentido literal, os aguerridos defensores dos trabalhadores mostravam uma total ausência de bandeiras, figurativamente falando. Descontando-se propostas como a redução da jornada para 40 horas semanais (questionável em tempos de horários flexíveis e teletrabalho), reformas genéricas na legislação trabalhista e a extinção do fator previdenciário, era difícil entender o que queriam os manifestantes.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) tentou inserir uma nebulosa reforma política entre as propostas, mas não houve consenso na base e ficou por isso mesmo. Com algumas alterações, esse foi o script de centrais como Força Sindical e UGT e das menos conhecidas NCST e CTB. Entidades menores, como CSB, CGTB e CSP/Conlutas propunham algo mais esotérico, como o congelamento de preços. A grande ausente dos protestos do dia foi a massa que havia lotado as avenidas no início de junho. Além de tornar evidente o esvaziamento das centrais, essa ausência mostra uma dolorosa repetição do passado. Há pouco mais de meio século, antes dos anos de chumbo da ditadura militar, os sindicatos vinculados ao Partido Comunista e ao antigo PTB gabavam-se de conseguir parar as capitais quando mandavam seus representados cruzarem os braços.
Não é mentira, mas não chega a ser verdade. De fato, durante o governo de João Goulart, esses partidos dominavam categorias-chave, como ferroviários, motoristas de ônibus e os marítimos que manejavam o sistema carioca de balsas. Em tempos de poucos carros e antes da construção da ponte Rio-Niterói, paralisar esses setores realmente travava a produção, pois os operários simplesmente não conseguiriam chegar ao trabalho. Em 1964, porém, quando os tanques saíram à rua com o apoio da classe média cansada das greves, os sindicalistas perceberam que sua capacidade de mobilização era uma fração do que acreditavam ser, abrindo caminho para um dos períodos mais tenebrosos da história brasileira. Avancemos cinco décadas e chegaremos à situação atual, em que alguns manifestantes bloqueiam vias para simular uma mobilização que não existe.
Atualmente, o sindicalismo brasileiro enfrenta uma profunda crise de representatividade. Apesar do crescimento do emprego formal, a adesão é baixa. Bandeiras históricas como a participação nos lucros passaram a frequentar a agenda dos empresários. O discurso belicoso e grevista dos anos 1980 foi substituído por uma estratégia de parceria e negociação. Não por acaso, o drama da CUT repete-se nas demais centrais. A maior das entidades, com 2,7 milhões de filiados e R$ 45,7 milhões recebidos em imposto sindical no ano passado, segundo a Folha de S. Paulo, teve de se equilibrar entre a insatisfação dos trabalhadores que representa e o apoio ao governo cujos quadros, em boa parte, formou. Saias justas como essa mostram que, apesar de ainda ir às ruas marchar, o movimento sindical perdeu o passo.