09/02/2010 - 23:31
Eram quase 2h30 de um sábado quando um animado francês ? meio desajeitado do alto de seu quase 1,90m ? arriscava passos de salsa, rumba e mambo em uma agitada festa chamada La Chispa, em Cancún, México. Vestido com uma camisa rosa levemente desabotoada, bermuda clara e meias esticadas, ele sorria sem parar, enquanto conversava com os convidados e balançava o copo de marguerita pela pista.
Ali, dentre dezenas de estrangeiros que badalavam na boate do resort Club Med, ele parecia mais um turista como outro qualquer. Parecia. Aquele homem era, na verdade, Henri Giscard d?Estaing, CEO do Club Med, a maior rede de resorts do planeta com 80 unidades espalhadas em 27 países e faturamento de 1,3 bilhão de euros.
?Minha casa era frequentada por vários presidentes e até pelo papa.
Essa época me marcou muito e moldou minha personalidade? Henri Giscard d?Estaing, CEO do Club Med
Apenas pelo cargo e importância no campo dos negócios, Henri já seria ouvido em qualquer parte do mundo. Mas ele, que comanda a rede desde 2005, tem algo a mais. Henri é filho do ex-presidente da França Valéry Giscard d?Estaing ? um dos mais respeitados políticos europeus, hoje com 84 anos ? e traz toda a sua experiência vivida nas altas rodas do poder para dentro da cadeia hoteleira.
?Enquanto as pessoas aprendem a história por meio dos livros, vivenciei alguns capítulos importantes ao lado de meu pai, dentro de casa?, disse Henri, com exclusividade à DINHEIRO, à beira da piscina.
Spa de uma das unidades do Club Med
O sangue ?nobre? deu para Henri, hoje com 52 anos, o incontestável privilégio de ter assistido a fases marcantes na história da política mundial. Quando seu pai foi eleito, em 1974, tinha apenas 18 anos. Durante o mandato, encerrado em 1981, ouviu conselhos e sentou-se ao lado de personagens do poder político internacional. Participava de almoços com o presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, com o papa João Paulo II, com xeques árabes, além de todos os líderes europeus da época.
Paraíso mexicano: um dos villages mais visitados do Club Med no mundo, o de Cancún foi escolhido
para receber o primeiro espaço 5 tridentes, que oferece novos serviços e opções aos turistas
?Aprendi a perceber as diferenças culturais e as posições políticas em cada um deles. Meu pai sempre me falava isso, e dizia que a diplomacia serviria para todos os campos da minha vida?, diz Henri. Definitivamente, serviu. Dentro do Club Med, os visitantes são recebidos com toda a pompa de um chefe de Estado. Afinal, o próprio Henri faz questão de supervisionar o trabalho de seus 15 mil funcionários ? chamados de G.Os, ou gentis organizadores ? preparados para acolher quem chega aos villages.
A convivência de Henri com o poder e a filosofia do Club Med moldaram sua personalidade. Ele encontrou na carreira corporativa seu modo de exercer a paz e a diplomacia ? e, assim, deixou o legado político para a biografia do pai. ?Me lembro como se fosse hoje de uma conversa com o papa João Paulo II?, disse Henri.
Umas das suítes luxuosas do Club Med de Cancún
?Era uma figura carismática e comunicativa. Conquistava quem estava perto sem muito esforço?, completou. Quando resgata memórias dos bastidores do poder, parece que os olhos de Henri brilham ? principalmente quando fala de paz. Não por acaso.
Em 1978, o presidente do Egito, Muhammad Anwar Al Sadat, visitou sua casa em Paris para discutir com seu pai os detalhes de um histórico acordo de paz com Israel, que viria a ser assinado no ano seguinte. ?Me impressionou muito o empenho de dois grandes líderes na busca de uma solução para o conflito. A paz sempre moveu meu pai, e Sadat queria o mesmo?, disse Henri. ?A habilidade em negociar carrego comigo até hoje?, garantiu.
A admiração dele pelo presidente egípcio não terminaria ali. Em 6 de outubro de 1983, Sadat foi assassinado durante uma parada militar no Cairo por membros da Jihad Islâmica Egípcia infiltrados no Exército e que eram parte da organização egípcia que se opunha às suas negociações com Israel. ?Não entendia por que nem todos queriam a paz.?
Longe da política, Henri ? que já exerceu cargo de comando na multinacional francesa Danone ? encontrou no Club Med seu modo de cultivar a paz. Ele tem capitaneado a mudança de posicionamento da rede em todo o mundo, que tem como estratégia oferecer ainda mais sofisticação. Dias atrás, a companhia estreou um espaço 5 tridentes, uma classificação do Club Med equivalente a um cinco-estrelas superior, no hotel de Cancún, um dos mais frequentados da rede. Nos próximos meses, um novo resort do Club Med será inaugurado, no litoral do Rio de Janeiro, num investimento de R$ 125 milhões, e, em cinco anos, outros cinco hotéis serão erguidos na China. ?São mercados prioritários para nós?, justificou o executivo.
O estilo de gestão de Henri tem dado bons resultados. Entre novembro de 2008 e outubro de 2009, o ano fiscal do Club Med, a rede faturou 1,360 bilhão de euros, uma expansão de 9% sobre o ano anterior, apesar do forte impacto da crise financeira e do surto de gripe suína no setor de turismo. ?As perspectivas são as melhores. Vamos acelerar ainda mais esse crescimento a partir deste ano?, garantiu, sorrindo, Henri Giscard d?Estaing. Ainda que na salsa continue desajeitado, ele mantém passo firme no comando do Club Med.