Não é qualquer empresa que pode apelar a um extraterrestre ou a um super-herói na hora do sufoco. A brasileira International Trading Consultants (ITC) não só pode como usa e abusa desse expediente. Ao lado da Warner, da Disney e da Maurício de Sousa, ela é hoje uma das grandes agências de licenciamentos do País, onde tal mercado movimenta R$ 2,5 bilhões anuais. Fundada em 1984 pelo porto-riquenho Peter Carrero, a ITC licenciava apenas 11 personagens e filmes americanos até um ano e meio atrás. ?Eram poucas, mas boas propriedades, como Snoopy, Garfield e Guerra nas Estrelas, que seguraram o nosso negócio por um bom tempo?, conta Carrero, que nesse tempo abriu filiais no Chile, Argentina, Colômbia, Venezuela e México. Só o cachorrinho Snoopy vendeu, em 10 anos, R$ 300 milhões em cremes, xampus e sabonetes para a Davene. Garfield
é o campeão de licenciamentos da empresa, com 600 produtos
no currículo. ?Só que as multinacionais chegaram, dividiram o mercado e nós tivemos que nos mexer?, diz Carrero. Ele então deu início a uma reestruturação na sua companhia para tirá-la do arcaísmo. De cara, aumentou o número de vendedores de três
para 15. A equipe, que antes expunha os personagens aos clientes em prosaicas cartolinas, passou a fazer apresentações com a
ajuda de notebooks e projetores. Depois, Carrero buscou um sócio para criar uma nova empresa, a C&N, que agencia a imagem de artistas. Já são 22 contratos assinados, entre eles com as atrizes Carolina Ferraz, Claudia Raia e Deborah Secco e com os VJs
João Gordo e Cazé Peçanha. ?Agora temos 53 propriedades e dobramos o nosso faturamento?, comemora o empresário, sem
citar valores. A única pista que ele dá é o porcentual dos royalties cobrado: em média, 30%.

Mas o que virou mesmo o jogo foi uma parceria com a Universal Studios, que tornou a ITC agente exclusivo para licenciar na América Latina pesos pesados como E.T. (bem na época da comemoração dos 20 anos do filme de Steven Spielberg), Parque dos Dinossauros, Pica-Pau (que há 39 anos é exibido na televisão brasileira) e o crème de la crème: Hulk. O filme, dirigido por Ang Lee, tem estréia prometida só para junho de 2003, mas a ITC, desde já, vai fazendo bons negócios. Assinou contratos de licenciamento do personagem com Nestlé (cereais matinais), Warner Lambert (chicletes), Grow (brinquedos), Jandaia (cadernos escolares), Habib?s, Panini (figurinhas) e Lotoy (estojos). A previsão é ter 30 licenças vendidas até o filme entrar em cartaz. Segundo Carrero, Hulk deve fazer mais barulho do que Homem Aranha, o blockbuster da Sony que já gerou estimados
US$ 10 milhões em produtos licenciados no Brasil. ?A Universal acredita ter um mercado consumidor interno de US$ 50 milhões?, informa Carrero. ?E a maior parte disso, eu ainda não sei dizer quanto, certamente virá do Hulk.?

Novo fôlego ao Pica-Pau. Não é à toa que a Universal está de olho no Brasil. O mercado latino de licenciamentos é o que mais cresce no mundo ? cerca de 10% ao ano. Além da montanha verde de músculos, o estúdio americano vai lançar por aqui dois desenhos animados para a tevê (Sitting Ducks, já comprado pela Globo, e Os Terríveis Marcianos) e o filme The Cat in the Hat. ?São ótimos personagens, mas, nesse acordo, uma questão de honra para mim é aumentar os negócios gerados pelo Pica-Pau?, afirma Carrero. O pássaro criado em 1940 por Walter Lantz é um dos campeões de licenciamento da Universal. Tem 170 clientes no mundo inteiro, mas no Brasil, apenas 10. ?Já fiz coisas mais difíceis na minha vida?, diz, confiante, o empresário. Uma delas foi tomar a decisão de deixar para trás 20 anos de carreira como presidente de multinacionais americanas no País, entre elas a Baush-Lomb, para montar a ITC num banheirinho de casa. ?Hoje, olhando para o passado, eu só lamento não ter feito isso antes?, diz.