25/09/2019 - 16:35
O líder indígena Davi Kopenawa, premiado nesta quarta-feira (25) com o “Nobel alternativo” Right Livelihood, disse à AFP que o prêmio fortalece sua luta em defesa do meio ambiente: “Trará forças para mim e para meu povo”.
A fundação sueca outorgou o reconhecimento a Kopenawa e à associação Yanomami Hutukara, cofundada e presidida por ele pela “luta firme e determinada para proteger as florestas e a biodiversidade da Amazônia, assim como as terras e a cultura de seus povos autóctones”.
“É resultado da luta durante mais de 20 anos. Foi uma energia muito boa para continuar protegendo e preservando a natureza e nosso povo”, disse Kopenawa em entrevista por telefone, falando de Roraima.
O prêmio chega no dia seguinte ao discurso do presidente Jair Bolsonaro, que questionou na Assembleia Geral das Nações Unidas a extensão da terra yanomami, reconhecida oficialmente em 1992 e que se estende por 96.650 km2 perto da fronteira com a Venezuela.
“Não tenho medo dele [do Bolsonaro] não. Estou preocupado pelo estrago que ele pode causar. Estou preocupado com a destruição do rio, com a morte dos peixes, que prejudiquem nossa saúde, que derrubem a floresta”, alertou Kopenawa.
“O governo de Bolsonaro quer explorar e colonizar a terra yanomami, ele quer permitir mineração na terra ianomami e na raposa do sol, ele quer colocar a mineração na terra ianomami e na Raposa do Sol. A mineração não trará nada de bom para o povo yanomami”, acrescentou.
Consultado sobre a possibilidade de que o célebre cacique brasileiro Raoni Metuktire, da tribo Kayapó, seja homenageado com o Nobel da Paz, Kopenawa se alegrou.
“O Raoni é um líder tradicional reconhecido mundialmente, ele deve ganhar o prêmio por sua luta. Ninguém está pedindo prêmios, estão nos dando porque querem fortalecer nossa luta”, expressou.
Junto com a associação Yanomami Hutukara e Kopenawa, outros ativistas foram premiados com o Right Livelihood, entre eles a jovem sueca Greta Thunberg, ícone da luta contra as mudanças climáticas.
– “Somos homens limpos” –
Kopenawa foi premiado pela ONU com o prêmio Global 500 em 1989 por seus esforços em favor da preservação ambiental. Em 2010, escreveu “A queda do céu”, livro que fala dos esforços dos yanomami para lutar contra a invasão de suas terras, que – entre outras ameaças – nos anos 1980 foram epicentro da mineração ilegal.
O antropólogo francês Bruce Albert, que trabalhou com Kopenawa na elaboração do livro, também comemorou a notícia.
“Recompensa uma luta incansável de Davi em prol da defesa do seu povo e da terra indígena yanomami”, disse em entrevista à AFP Albert, para quem o reconhecimento vem “em um momento extremamente oportuno”.
“O presidente Bolsonaro mencionou de novo no seu discurso na ONU de uma maneira muito ameaçadora as terras yanomami. As ameaças lembram o que já vimos nos 1970 e 1980, mas o que é inédito agora é que o governo está incentivando a entrada dos garimpeiros nas terras indígenas. A própria vida do Davi já foi ameaçada pelos garimpeiros no passado”. reforçou.
O prêmio Right Livelihood foi criado em 1980 pelo germânico-sueco Jakob von Uexkull, um eurodeputado ecologista, após a recusa da fundação Nobel de criar um prêmio para o meio ambiente e o desenvolvimento. Por isso, a fundação que o oferece o considera um “Nobel alternativo”.
Kopenawa disse que viajará para a Suécia para a cerimônia de premiação que será realizada em 4 de dezembro.