O diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta do Banco Central (BC), Mauricio Moura, ao traçar relação entre Selic e custo de crédito, disse que o baixo nível de poupança no Brasil reduz a capacidade de oferta de financiamento. Ele fez a afirmação durante apresentação nesta terça-feira, 15, em audiência pública da Comissão de Indústria, Comércio e Serviços, na Câmara dos Deputados, após fala do diretor de Regulação Prudencial, Riscos e Assuntos Econômicos e economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg.

Para Sardenberg, um dos fatores que encarecem o crédito no Brasil, elevando as taxas de juros e o spread bancário, é o baixo índice de recuperação de crédito.

Moura mostrou em gráfico que a última vez que a taxa de juros esteve nos 13,75% ao ano, nível em que se encontrava há duas semanas, foi em dezembro de 2016, quando o custo do crédito livre para pessoa física era de 71%, em média, ao ano. Agora, de acordo com o diretor, com o mesmo nível de Selic, estava em 59%.

“Essa queda de 12 pontos porcentuais com o mesmo nível Selic mostra que custo final do crédito no Brasil, por conta de reformas aprovadas nesta casa aqui, está caindo”, disse o diretor do BC.

Ele acrescentou que o custo do crédito para pessoas jurídicas (empresas) no mesmo período era de 28%, e está agora em 23%, uma queda de 5 pontos porcentuais, por conta de avanços institucionais que o País experimentou. Na avaliação de Moura, as taxas de juros no Brasil são muito altas e precisam convergir mais para baixo. Mas isso só será obtido se for dada continuidade à implementação das reformas já aprovadas.

O diretor do BC mencionou também o elevado porcentual do crédito direcionado como fator de encarecimento do crédito total. “E o crédito direcionado é imune à política monetária”, disse, lembrando que, no Brasil, quase 41% do crédito é direcionado, enquanto que, no México, o país mais próximo nisso, é de 26%. O diretor também mencionou a dívida pública como um grande competidor por crédito.

“O governo vai ao mercado tomar crédito, e não é tomar crédito de banco: é de cada um de nós que tem dinheiro no fundo de aplicação. Esse fundo vai lá e compra títulos do governo. Por isso que um dos grandes problemas da dívida, além de tirar a confiança da economia brasileira, é que o governo se torna um grande competidor por recursos no mercado”, disse Moura.

Por tudo isso, disse o diretor de Relacionamento do BC, “eu diria que são corajosas, dentro do contexto, as medidas dos ministro Fernando Haddad Fazenda e Simone Tebet Planejamento para preservar e colocar o Brasil no caminho fiscalmente sustentável e socialmente justo”.

Ainda na questão do crédito, Moura citou o crescimento da carteira das cooperativas, o que o BC tem incentivado muito. Ele mostrou no gráfico o crescimento do crédito só com os bancos e a expansão com as cooperativas, juntos, que é bem maior nos últimos cinco anos. O bom disso, segundo Moura, é que as cooperativas, por estarem instaladas mais para o interior do País, estão mais próximas e focadas nas pequenas empresas.

Mesmos os grandes bancos, de acordo com Moura, têm concedido mais crédito para micro, pequenas e médias empresas. “O custo é adequado? Pode baixar muito mais. Certamente que pode, se a gente perseverar nas mudanças”, observou.

Por sua vez, Sardenberg, da Febraban, disse que quando se olha para os spreads bancários, há reconhecimento de que são altos, mas também porque os custos de intermediação financeira são elevados, principalmente para pequenas e médias empresas. Segundo ele, melhora passa pelo aperfeiçoamento da qualidade de informação, fortalecimento do sistema de garantias e aperfeiçoamento dos fundos garantidores de crédito.