13/12/2013 - 21:00
Até bem pouco tempo atrás, quase todas as carteiras das faculdades eram ocupadas por alunos provenientes de escolas privadas. O aumento da renda das famílias e os incentivos do governo não chegaram a inverter essa fórmula, mas mudaram os termos da equação. Hoje, dois em cada dez alunos do ensino superior pertencem às classes C, D e E, e são egressos da rede pública, de acordo com a consultoria paranaense Hoper Educação, especializada no setor. Nos próximos anos, o ingresso de estudantes nas universidades – que abrigam 20% da população brasileira entre 18 e 24 anos – deve continuar acelerado.
Rodrigo Galindo, CEO da Kroton: queridinho dos investidores
em um setor promissor para 2014
Na ponta do lápis, o faturamento dos cursos de graduação deve crescer para R$ 32,04 bilhões em 2013. Não é à toa, portanto, que as ações de empresas de educação tenham se tornado as novas queridinhas dos investidores. “Esperamos uma desaceleração das empresas ligadas ao consumo na bolsa, mas as do setor educacional vão continuar aquecidas”, diz José Olympio da Veiga Pereira, CEO do banco Credit Suisse no Brasil. “Diploma de graduação continua a ser desejado pela nova classe média brasileira, e nada indica que isso vá diminuir.” Will Landers, gestor-sênior de fundos da Blackrock para a América Latina, concorda.
José Olympio da Veiga Pereira, CEO do Credit Suisse: ”Diploma de graduação continua
a ser desejado pela nova classe média brasileira, e nada indica que isso vá diminuir”
Entre as empresas listadas, ele aposta na Kroton. “Rodrigo Galindo, presidente da Kroton, é um executivo de primeiro time e, nessa atividade, boa gestão faz toda a diferença”, diz ele. A nota dez dada pelo mercado à Kroton não veio apenas devido aos resultados operacionais, mas também pela fusão com a Anhanguera, anunciada em abril, e que ainda depende da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Na semana passada, no entanto, o órgão de defesa da concorrência esfriou um pouco os ânimos dos investidores ao divulgar um parecer que apontava riscos de concentração. Isso pode significar restrições à aprovação do negócio.
“Não é o parecer final do Cade, mas é prejudicial porque o mercado já precificava a fusão”, diz Gustavo Serra, analista de investimentos da Planner. Segundo Roberto Valério, presidente da Anhanguera Educacional, o parecer segue agora para o Tribunal do Cade para avaliação de algumas restrições. Pelas contas do mercado, no pior cenário, as restrições vão comprometer 7% dos resultados da empresa. “A fusão é importante para construirmos uma empresa maior e melhor, usando as melhores práticas de ambas as companhias”, diz Carlos Lazar, diretor de relações com investidores da Kroton.
Will Landers, da Blackrock: as ações de empresas de educação
vão continuar sendo demandadas
“Isso vai aumentar nosso potencial de investimento em tecnologia, o que nos coloca em um posicionamento bastante vantajoso em relação aos parâmetros mundiais.” De acordo com relatório divulgado na época do anúncio, as sinergias podem chegar a R$ 300 milhões já no primeiro ano de operação em conjunto. As ações da companhia refletem essa confiança do mercado. Em 2013, as cotações subiram cerca de 70% ante uma queda de quase 20% do Ibovespa. A Kroton pode ser, até agora, o melhor aluno da classe, mas ela terá uma concorrência acirrada nos próximos meses. Apesar de 2013 ter sido um ano fraco para aberturas de capital, duas empresas do setor, Ser Educacional e Anima, tocaram o sino no pregão da bolsa em outubro.
O maior risco de um solavanco nos papéis vem de uma mudança nas políticas
governamentais voltadas para a educação devido às eleições do ano que vem
E, ao contrário do que tem sido a regra, suas ações subiram após a abertura. Isso deve aumentar ainda mais a competição pelo dinheiro dos investidores. O manancial de subsídios governamentais para o ensino superior vai continuar a existir, garantindo salas de aula lotadas. “Além disso, nos próximos anos, a educação contará com os royalties do petróleo”, lembra Bernardes Júnior, do BB Investimentos. Os analistas recomendam sua compra, e a dos concorrentes. Para Felipe Silveira, da Coinvalores, ao longo de 2014, as ações da Anhanguera podem subir até 21%.
Ele diz esperar um avanço de 20% nos papéis da Kroton e estabilidade para as cotações da Estácio, que liderou os ganhos em 2013, com uma alta de 237%. Há riscos nesses papéis? Para os analistas, sim. O maior deles é uma mudança nas políticas governamentais voltadas para educação, discussão que pode provocar um solavanco nos preços das ações. O maior impacto negativo seria justamente sobre a Kroton, pois metade dos seus alunos conta com algum tipo de bolsa do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). “Esse assunto pode entrar em discussão no ano que vem, devido à turbulência eleitoral”, diz Serra, da Planner. “Mesmo assim, acho difícil que isso aconteça.”