24/08/2011 - 21:00
Papéis avulsos
A holding de instituições de ensino Anhanguera Educacional teve de ser didática ao explicar seus resultados ao mercado. Na segunda-feira 15, a companhia divulgou um lucro líquido de R$ 8 milhões no segundo trimestre, queda de 9,8% sobre o mesmo período de 2010. A nota vermelha do trimestre afetou o resultado do primeiro semestre, que terminou com lucro líquido de R$ 54,4 milhões, queda de 0,5%. A empresa gastou demais com marketing e com aquisições, mas não teve fôlego para manter o crescimento e pisou no freio. Só no segundo trimestre, foram R$ 7,1 milhões em custos não recorrentes, somando R$ 11,3 milhões nos seis primeiros meses.
No dia seguinte ao anúncio, as ações ordinárias da Anhanguera caíram 11%, perda que a alta de 2,9% no pregão posterior compensou apenas em parte. Dias antes, a companhia realizou demissões em massa, dispensando 180 pessoas. Procurada, a Anhanguera confirmou o corte, mas não o número. “Como parte da busca por melhoria de produtividade e eficiência econômica, a Anhanguera Educacional desligou um pequeno contingente de colaboradores no dia 11 de agosto”, informou a empresa. A ordem dos controladores é procurar cortar os custos com pessoal e aumentar as receitas. Sua meta é alcançar uma geração de caixa anual entre R$ 285 milhões e R$ 315 milhões. A diferença entre as duas cifras vai depender da velocidade com que a empresa irá concluir as novas aquisições que vem buscando.
Touro x Urso
O mau humor do mercado se amplificou nos últimos dias. Na quinta-feira 18, o índice Bovespa fechou em baixa de 3,5%, ampliando a baixa de agosto para 9,7%. O que assustou os investidores foram relatórios de bancos de investimento americanos, em especial o Goldman Sachs, prevendo um desempenho pior do que o esperado para a economia internacional nos próximos trimestres. Com isso, as ações caíram ao redor do mundo. Para os especialistas, não há causas objetivas para quedas tão grandes, uma vez que os resultados das empresas nos Estados Unidos têm estado em linha com as expectativas. Para a próxima semana os investidores vão esperar os números das demissões (mass layoffs) de julho, com divulgação prevista para a terça-feira 23.
Quem vem lá
Manchester United vai ao ataque
Um dos mais tradicionais times de futebol da Inglaterra, o Manchester United, pretende abrir seu capital, mas bem longe dos campos ingleses. O clube escolheu a Ásia para se lançar no mundo das finanças e pode levantar até US$ 1 bilhão na bolsa de Cingapura. A oferta deve ser registrada ainda este ano. O clube é o mais valioso do mundo, segundo o ranking da revista Forbes. Os três títulos da Liga dos Campeões, um dos torneios mais importantes da Europa, ajudaram o Manchester United a ser avaliado em US$ 1,864 bilhão.
Fique de olho: a iniciativa do Manchester vem unir-se à de outros times de futebol na Europa, como os italianos Juventus, Lazio e Roma; os portugueses Benfica, Porto e Sporting; e o escocês Celtic.
Destaque no pregão
Novo mercado para as Teles
As operadoras de telefonia e internet poderão oferecer mais serviços. O Senado aprovou na terça-feira 16 o Projeto de Lei da Câmara 116, que incentiva a ampliação dos serviços de televisão por assinatura e a expansão da infraestrutura, o que favorece o aumento da oferta de internet banda larga (leia mais à pag. 76). As novas regras também permitem a entrada de capital externo no controle das companhias de tevê a cabo. O projeto ainda depende de aprovação de Dilma Rousseff.
Palavra de analista: A notícia é positiva para companhias como Telesp (controlada pela Telefônica) e Oi. “Esse pode ser um dos fatores de retomada de crescimento das receitas, que têm sofrido deterioração no seu principal negócio, a telefonia móvel”, afirma a analista Luciana Leocadio, da corretora Ativa. Mas o mercado não se animou. No pregão seguinte ao anúncio, as ações ordinárias da Telesp caíram 0,11%, as da Oi perderam 2,55%, e as preferenciais da Net caíram 1,92%.
Educação financeira
Ouro – Investimento, proteção ou ilusão, do consultor Mateus Padovani Velloso discute as vantagens e as desvantagens de se investir no metal, cujas cotações vêm batendo recordes no mercado internacional em razão da queda do dólar e ao excesso de liquidez na economia. Editora Saraiva, 172 páginas, R$ 34,90.
Mercado em números
Cosan
R$ 2,3 bilhões - Foi o lucro líquido da Cosan no primeiro trimestre fiscal de 2012, encerrado em junho, ante lucro de R$ 400 milhões no mesmo período da safra anterior. O resultado foi ajudado pela criação da Raízen, joint venture com a Shell.
Gol
R$ 358,7 milhões - Foi o prejuízo líquido da companhia aérea Gol no segundo trimestre do ano, alta de 591% ante o prejuízo do mesmo período do ano passado. Segundo a companhia, as perdas ocorreram principalmente pelo cenário competitivo do setor no Brasil, que causou queda de 2,3% na receita de passageiros, e da pressão nos custos operacionais.
Light
R$ 212 milhões - Foi o lucro líquido da companhia de energia Light no primeiro semestre do ano, queda de 41,6% ante os seis primeiros meses de 2010. No segundo trimestre de 2011, o lucro também caiu e totalizou R$ R$ 45,3 milhões, 67,1% abaixo do resultado de 2010.
Abril Educação
R$ 37,2 milhões - Foi o prejuízo líquido da Abril Educação no segundo trimestre do ano. Foi o primeiro resultado trimestral divulgado pela empresa após sua abertura de capital, e mostrou um crescimento de 81% em relação ao prejuízo de R$ 20,6 milhões do mesmo período de 2010.
Pelo mundo
SABMiller não leva a Forster’s
Os acionistas da cervejaria australiana Foster’s Group Limited rejeitaram a oferta de US$ 10 bilhões, feita pela inglesa SABMiller, por considerar o valor baixo. A SABMiller havia feito a mesma proposta em junho, mas os controladores rejeitaram. As ações da Foster’s subiram 0,8% em Sydney e as da SABMiller caíram 1,9% em Londres.
Resultados da Dell decepcionam
A gigante de tecnologia Dell obteve lucro líquido de US$ 2,1 bilhões no primeiro semestre, alta de 69% ante o mesmo período do ano passado. Com a perspectiva de menores gastos do consumidor nos Estados Unidos, a empresa revisou sua projeção de crescimento de vendas para 1% a 5% este ano, ante expectativa de até 9%. Os papéis caíram 10%, maior baixa desde 2008.
Lucro da Walmart cresce
O lucro operacional da varejista Walmart somou US$ 12,3 bilhões no primeiro semestre do ano, valor 3% maior que o mesmo período de 2010. Na mesma base de comparação, as vendas subiram 4,9%, para US$ 212 bilhões. No dia do anúncio, os papéis subiram 3,9% em Nova York.
Personagem
Olha o lucro do Banrisul, tchê
O crescimento da carteira de crédito garantiu um avanço de 43,8% nos lucros no primeiro semestre para o Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul). O resultado cresceu com uma inadimplência baixa graças à grande participação dos empréstimos consignados na carteira do banco. João Emílio Gazzana, diretor financeiro e de relação com investidores do Banrisul, conversou com a DINHEIRO:
Gazzana, diretor de RI do Banrisul: empréstimos consignados e de longo prazo
O lucro líquido cresceu 43,8% no primeiro semestre. O que impulsionou esse resultado?
Em primeiro lugar, tivemos um aumento expressivo nas operações de crédito. Os empréstimos são o maior componente no resultado do banco e representam cerca de 62% das nossas receitas. Em segundo lugar, melhoramos o resultado da tesouraria, impulsionado em parte pelo aumento de juros. Por último, houve uma maior captação via depósitos.
O banco conseguiu manter baixos níveis de inadimplência em um cenário mais arriscado. Como?
Da nossa carteira de crédito para pessoas físicas, cerca de 74% é composta de crédito consignado, em especial para o funcionalismo público do Estado do Rio Grande do Sul. Essa operação é muito tranquila, com pagamento garantido e baixa inadimplência.
Qual é a perspectiva de crescimento da carteira de crédito?
Nossa expectativa é de que a carteira total de crédito cresça entre 15% e 20% este ano. A expansão de crédito para pessoa física deve ficar entre 12% e 17% e, para pessoa jurídica, entre 16% e 21%. Em pessoa jurídica, algumas modalidades de crédito com pouco volume devem ajudar esse crescimento. Não estávamos muito focados em créditos de longo prazo, como repasses do BNDES e recursos para capital de giro, por exemplo. Agora, nós criamos uma divisão para cuidar melhor dessa modalidade, já que o financiamento de longo prazo é uma boa maneira de fidelizar clientes.
Que setores devem impulsionar esse crescimento em pessoa jurídica?
No Rio Grande do Sul, estamos vendo um bom desempenho de setores como o agronegócio. Integrada a esse processo, também temos
toda a indústria de transformação, máquinas e equipamentos.
A situação da economia atual muda algo nessa projeção?
Não. Nossas estimativas são as mesmas do início do ano. Quando elaboramos as projeções, já considerávamos esse cenário, já que medidas macroprudenciais do Banco Central começaram a ser tomadas no ano passado.
Colaboraram Lilian Sobral e Eliane Sobral