11/12/2021 - 8:20
O território francês de Nova Caledônia, situado no Oceano Pacífico, vive neste fim de semana o terceiro e último referendo de independência de Paris, após uma campanha marcada pelas demandas para suspender o processo devido à pandemia de coronavírus.
Em Nova Caledônia, situada a cerca de 2.000 quilômetros a leste da Austrália, as urnas abrirão às 8h00 locais de domingo (12, 18h00 de sábado em Brasília) e fecharão às 18h00 locais (2h00 em Brasília). Espera-se que os primeiros resultados sejam apresentados algumas horas após o encerramento.
Este é o terceiro referendo no arquipélago desde os Acordos de Matignon de 1988, que buscavam uma saída para a crise no território.
Depois de rechaçar a ruptura com a metrópole em duas ocasiões, os 185.000 habitantes de Nova Caledônia terão que responder à pregunta: Você quer que Nova Caledônia obtenha sua soberania absoluta e seja independente?
O presidente da França, Emmanuel Macron, insiste que o Estado francês não toma partido no referendo e se dedica simplesmente a assegurar o desenvolvimento do processo. “No dia seguinte [à votação], seja qual for o resultado, haverá uma vida em comum” entre França e Nova Caledônia, disse o chefe de Estado na última quinta-feira (9).
O referendo acontece em um momento de tensão entre a França e seus aliados na região do Pacífico. Paris quer seguir tendo um papel de importância na região graças a seus territórios ultramarinos, entre eles a Nova Caledônia.
Além disso, a França criticou em setembro a Austrália por romper um contrato de compra de submarinos entre os dois países, em favor de um pacto de segurança com Reino Unido e Estados Unidos.
Por trás dessa disputa está o papel da China na região. Os analistas suspeitam que uma Nova Caledônia independente poderia se aproximar da China, que tem a intenção de investir na exploração dos recursos naturais do arquipélago.
Pequim já é o maior cliente para a exportação de metais de Nova Caledônia, em especial o níquel.
– ‘Colar de pérolas’ chinês –
“Com o fim da proteção francesa, aparecem todos os elementos para que a China se estabeleça permanentemente em Nova Caledônia”, opina Bastien Vandendyck, analista de Relações Internacionais especializado no Pacífico.
Vandendyck considera que outras nações da região da Melanésia, como Fiji, Vanuatu, Ilhas Salomão e Papua Nova Guiné já são “satélites chineses”.
“Para a China completar seu ‘colar de pérolas’ em torno da Austrália só falta a Nova Caledônia”, afirma o especialista.
Os partidários da independência pediram um boicote à votação de domingo e o adiamento da mesma porque não houve uma “campanha justa” por causa dos riscos da pandemia de coronavírus e ameaçam não reconhecer os resultados do referendo.
Por sua vez, o governo francês rejeitou o adiamento porque considera que a pandemia não é grave no território, com uma taxa de incidência de entre 80 e 100 casos por 100.000 habitantes.
As autoridades do arquipélago também emitiram um alerta de ciclone para este sábado, e pediram que a população esteja atenta aos boletins meteorológicos.
Os defensores da permanência como território da França convocaram uma mobilização maciça diante do boicote dos independentistas, para evitar que sua previsível vitória fique manchada pela baixa participação.
No último referendo, em 2018, os defensores da permanência como território francês ganharam com 56,7% dos votos, mas seu percentual de apoio caiu para 53,3% nas eleições locais de 2020.
Em junho, os diferentes campos políticos acordaram com o governo francês que, para além do resultado de domingo, o período que se inicia agora deve ser de “estabilidade e convergência”, e um novo referendo deverá ser realizado em junho de 2023 para decidir o “projeto” futuro de Nova Caledônia.