11/10/2006 - 7:00
Certos bancos estrangeiros estão a ponto de, literalmente, pagar para entrar no lucrativo mercado brasileiro. O Bank of America, bem ao contrário, corre o risco de voltar ao País contra a sua vontade.
Ganharam força nas últimas semanas especulações segundo as quais o peso-pesado americano estaria comprando o ABN Amro, maior banco da Holanda, com valor de mercado de US$ 54 bilhões. Se o negócio for fechado, o Bank of America ?herdará? o Banco Real, pertencente aos holandeses desde 1998. Trunfo estratégico para muitos, o controle da quinta maior instituição financeira privada do País seria um presente de grego para os americanos ? que pensavam finalmente ter se livrado do mercado brasileiro no último mês de maio. Na ocasião, o BofA vendeu para o Itaú as operações brasileiras do BankBoston ? herdadas em 2003, quando da compra do Fleet ? e demonstrou cabalmente seu desinteresse pelo País. Conclusão de dez entre dez analistas brasileiros: se o BofA comprar mesmo o ABN, o Banco Real estará à venda.
A história do Bank of America no Brasil começa em janeiro de 1998, quando o Nations Bank adquiriu 51% das ações do Banco Liberal. No ano seguinte, o Nations foi incorporado pelo BofA, que, pela primeira vez, ganhou ?de brinde? um banco no País. De início, os americanos gostaram da brincadeira. Associaram-se aos banqueiros Aldo Floris, Antônio Carlos Lemgruber e Lauro de Luca e decidiram co-administrar o negócio. Mais tarde, quando os sócios brasileiros decidiram deixar o Liberal, os auditores do Bank of America encontraram indícios de um desfalque de US$ 38 milhões. O caso foi parar na Justiça. Nesse meio tempo, até uma parceria com o Vasco da Gama o BofA manteve. Decepcionados, os americanos zeraram suas atividades no Brasil em março de 2003.
Apenas oito meses depois, no entanto, ao adquirir o Fleet Boston nos Estados Unidos, o BofA viu-se de volta ao Brasil, como dono do BankBoston. Passou dois anos e meio convencendo o mercado local de que seu compromisso com o País, dessa vez, era de longo prazo. Até vender o Boston ao Itaú, por US$ 2,2 bilhões.
Quando ainda acreditava que o Bank of America tinha interesse no mercado brasileiro, a cúpula do Boston alimentava a expectativa de crescer no varejo bancário. ?Talvez o BofA não encontre um grande banco local à venda e prefira comprar lá fora uma instituição multinacional com forte presença no Brasil?, sustentava, longe dos microfones, um alto executivo do grupo. Um consultor de empresas que assessorou o Boston na época confirma que essa hipótese foi posta sobre a mesa. Mas pondera que os americanos nunca se animaram com ela e duvida que eles se desviem de seu foco nos Estados Unidos para comprar o ABN. ?Se o fizerem, será pela Europa?, concede. ?Da América Latina, eles querem distância.?
NO BRASIL, POR ACASO
Em 1999, o Bank of America ?herdou? o Banco Liberal ao incorporar o Nations Bank, nos EUA. Fechou o banco em 2003.
Oito meses depois, comprou o banco Fleet e voltou ao Brasil como dono do BankBoston. Vendeu para o Itaú em maio.
Agora, o BofA negocia a compra do ABN e pode herdar o Banco Real, o qual, para o mercado, acabaria sendo posto à venda.