O cardeal Joseph Ratzinger, que depois seria nomeado Papa, não fez nada para impedir em 1980 que um padre acusado de pedofilia retomasse o sacerdócio em uma outra paróquia na Alemanha, afirma o jornal New York Times nesta sexta-feira, um dia depois de revelar um caso parecido ocorrido nos Estados Unidos.

No final de 1979 em Essen, Alemanha, o padre Peter Hullermann foi suspenso após várias queixas de pais que o acusavam de pedofilia. Uma avaliação psiquiátrica ressaltou os instintos pedófilos, indica o diário americano.

Algumas semanas depois, em janeiro de 1980, o cardeal Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, que era na época arcebispo de Munique, dirigiu uma reunião durante a qual a transferência do padre de Essen para Munique foi aprovada. O futuro pontífice recebeu alguns dias depois uma nota na qual foi informado de que o padre Hullermann havia retomado o serviço pastoral.

Em 1986, este padre foi declarado culpado de ter agredido sexualmente meninos em uma outra paróquia de Munique, após a transferência para a cidade bávara.

Nesta semana, novas acusações de pedofilia vieram à tona, envolvendo o início e o fim de seu sacerdócio.

“Este caso é particularmente interessante porque ele revela que na época o cardeal Ratzinger estava em posição de lançar de processos contra o padre, ou pelo menos, de fazer com que não tivesse mais contato com crianças”, destaca o jornal.

“O padre Hullermann passou diretamente da vergonha ligada à suspensão de suas funções em Essen à possibilidade de trabalhar sem qualquer restrição em Munique, mesmo tendo sido descrito como um ‘perigo’ na carta que pedia a transferência”, acrescenta o NYT.

Pelo segundo dia seguido o New York Times revela documentos comprometedores para o Vaticano. Na quinta-feira, o jornal revelou que o futuro Papa Bento XVI havia acobertado abusos sexuais de um padre americano, acusado de ter abusado de 200 crianças surdas de uma escola do Wisconsin (norte dos Estados Unidos).

O Vaticano saiu em defesa do Papa afirmando que ele só teve conhecimento dos fatos quando era tarde, quando o idoso sacerdote já estava muito doente.

Segundo o NYT, o então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé abriu mão de iniciar os trâmites contra o padre acusado de ter abusado de quase 200 crianças surdas em uma escola do Wisconsin entre 1950 e 1972.

Por outro lado, os bispos da França expressaram nesta sexta-feira vergonha e pesar ante os atos abomináveis de pedofilia dentro da Igreja Católica, em carta dirigida ao Papa, ao término de sua assembleia geral realizada em Lourdes (sudoeste).

“Todos sentimos vergonha e pesar ante os atos abomináveis cometidos por alguns padres e religiosos”, afirmam os bispos franceses, que, na mesma carta, defenderam o Papa contra os ataques que sofreu neste caso.

“Constatamos também que estes fatos inadmissíveis são utilizados em uma campanha para atacar o senhor e sua missão à serviço da Igreja”, afirmam os prelados.

Também enviaram “uma cordial mensagem de apoio no difícil período que atravessa nossa igreja”.

Os bispos manifestaram adesão às palavras do Papa “destinadas às vítimas dos crimes” e consideraram que as pessoas que cometem esses atos “desfiguram nossa Igreja”.

O chefe máximo dos católicos da Inglaterra e de Gales também negou que a Igreja tenha acobertado os abusos sexuais em um artigo publicado no jornal Times.

O arcebispo de Westminster, Vincent Nichols, considerou inadmissível a atitude das pessoas que abusaram sexualmente de menores.

“Envergonho-me do ocorrido e compreendo a ira e horror que estes casos produziram”, enfatiza.

Já a influente congregação mexicana Legionários de Cristo reconheceu nesta sexta-feira pela primeira vez os abusos sexuais cometidos por seu fundador, o falecido padre Marcial Maciel, e pediu perdão às vítimas.

Em um comunicado divulgado em Roma, os superiores da congregação admitem as “ações reprováveis” de Maciel e pedem desculpas a “todos aqueles que foram afetados, feridos ou escandalizados pelas ações reprováveis de nosso fundador”.

“Levou tempo para assimilarmos estes fatos de sua vida. Para muitos – sobretudo para as vítimas – este tempo foi muito longo e doloroso”, afirma o texto de quatro páginas.

“Portanto, profundamente consternados devemos dizer que estes fatos aconteceram”, reconhecem.

O documento, que rompe com a tradicional posição da congregação de defender a figura do controverso fundador, está assinado pelos principais nomes da congregação, entre eles o diretor geral Alvaro Corcuera e o vigário general Luis Garza.

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