15/09/2022 - 19:39
A ativista climática ugandesa Vanessa Nakate viajou recentemente ao Chifre da África, devastado pela seca, para escutar as crianças que sofrem de fome. No dia seguinte, soube que um dos meninos que conheceu havia morrido.
É por essas crianças, cujas vidas são duramente afetadas pela crise climática, que Nakate, a nova embaixadora da Boa Vontade do Unicef, quer fazer suas vozes serem ouvidas.
“Espero seguir fazendo o mesmo para amplificar e realmente dar uma plataforma para as histórias das crianças (…) que estão sofrendo devido à crise climática”, declarou Nakate, de 25 anos, em uma entrevista à AFP.
Inspirada pela Greta Thunberg, a adolescente sueca conhecida por sua defesa da luta contra as mudanças climáticas, Nakate fundou há vários anos o Movimento Climático Rise Up em seu país de origem, a Uganda, e tem falado sobre o tema em prestigiosos eventos internacionais.
Nesta quinta-feira, foi nomeada embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), unindo-se a figuras como a atriz Priyanka Chopra Jonas, a cantora Katy Perry e o refugiado sírio e ativista pela educação Muzoon Almellehan.
“Sempre acreditei que cada ativista tem uma história para contar”, disse Nakate. “E cada história tem uma solução para dar e cada solução tem uma vida para mudar.”
Ela afirma que as crianças e as mulheres são quem mais sofrem com o aquecimento global e que sua missão é fazer com que sejam ouvidas, em vez de falar em seu nome.
“Não posso dizer que posso dar voz a ninguém, porque creio que todos têm sua própria voz”, acrescentou. “A questão é: quem os escuta? Quem presta atenção?”
– “O teto de todos” –
Na semana passada, Nakate visitou hospitais e centros de nutrição administrados pelo Unicef em Turkana, uma região do Quênia no Chifre da África afetada por uma seca avassaladora.
“Conheci muitas crianças que sofriam de desnutrição grave, aguda, devido à seca”, contou Nakate sobre a viagem. “Fiquei sabendo na manhã seguinte que uma das crianças que conheci nesse dia havia falecido.”
Segundo o Unicef, aproximadamente metade das crianças do mundo, cerca de 1 bilhão, vive em um dos 33 países classificados como de “risco extremamente alto” devido aos impactos das mudanças climáticas.
Os cientistas dizem que as secas, as inundações, as tempestades e as ondas de calor se tornaram mais fortes e mais frequentes por causa do aquecimento global.
Nakate expressou frustração pelo fato de que, apesar do aumento dos fenômenos climáticos extremos, os governos do mundo, ocupados com a guerra da Ucrânia e a pandemia de covid-19, não estão fazenda o suficiente para salvar o planeta.
“É desanimador ver que o mundo não está prestando a atenção que deveria aos assuntos climáticos, pode ser muito frustrante”, disse a ativista.
“Os líderes precisam entender sobretudo que a Terra é o lar de todos nós, é o teto de todos nós. E temos que garantir que todo o teto esteja bem e que não haja infiltrações em nenhuma parte”, afirmou Nakate. “Porque qualquer goteira numa parte do teto em algum momento afetará a todos na casa.”