Nova York, Boston, Chicago, Los Angeles, San Francisco: desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca, várias cidades americanas vivem ao ritmo das manifestações, que não parecem próximas de parar, embora o seu impacto permaneça incerto, segundo analistas.

“É a primeira vez que eu saio nas ruas para ajudar as pessoas”, afirma Mark Hanna, um jovem advogado de Nova York que protesta contra o decreto migratório. Assim como ele, são muitos aqueles que descobriram a militância política nas últimas semanas e parecem ter tomado gosto.

Os Estados Unidos não vivenciavam uma mobilização de tal magnitude desde as grandes manifestações contra a guerra do Iraque em 2003, explica Fabio Rojas, professor de sociologia na Universidade de Indiana.

“Há uma grande possibilidade” de que isso continue, afirma, considerando que o movimento anti-Trump ganhou força com as palavras e decisões do presidente contra as mulheres, os muçulmanos, os homossexuais, os estrangeiros, etc.

Acima de tudo, Donald Trump “não faz nada” para acalmar os ânimos em um país mais dividido do que nunca, e desde sua posse, em 20 de janeiro, continua atiçando o fogo com diatribes contra juízes, refugiados, ou jornalistas.

Um coquetel que tem levado milhões de descontentes a enfrentar o frio e ir para as ruas. E a frustração é agravada pelo fato de que é a segunda vez em poucos anos que um candidato presidencial democrata perde, apesar de ter vencido no voto popular. Al Gore perdeu em 2000 contra George W. Bush.

Redes sociais

As redes sociais servem como um catalisador. “Aceleram a dinâmica” aproximando grupos de diferentes causas (direitos das mulheres, imigrantes, homossexuais, desempregados, etc.).

No entanto, o movimento ainda está longe de provar sua eficácia. As manifestações sem ações concretas com efeitos mensuráveis ​​não alcançaram qualquer mudança política, ressalta Rojas, como foi o caso do movimento de protesto Occupy Wall Street.

Segundo ele, se os manifestantes “da década de 1960 obtiveram resultados foi porque não davam trégua”, com boicotes que castigavam as empresas ou campanhas de financiamento que fortaleciam os movimentos ativistas, como o NAACP (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor), a maior organização de defesa dos negros americanos.

Outro exemplo de mobilização “radical” bem-sucedida: as manifestações do movimento ultraconservador Tea Party em 2009. Com a ameaça de competir nas primárias com os parlamentares republicanas que não votaram de acordo com suas diretrizes, o Tea Party “conseguiu assumir o controle do Partido Republicano”.

Não existe tal liderança entre os democratas, diz ele.

Dana R. Fisher, socióloga da Universidade de Maryland, também considera “ser muito difícil prever” o desfecho da atual mobilização.

Mas percebe no grande número de pessoas nos protestos como um sintoma de uma renovação: assim como nenhum especialista político antecipou a vitória de Donald Trump, as pessoas também poderiam “reagir de uma maneira imprevisível”.

“Primavera americana”?

Fisher toma como exemplo os protestos contra o decreto migratório que se multiplicaram no último fim de semana de janeiro e, acima de tudo, “a mobilização inesperada” dos advogados.

E até mesmo o enorme volume de doações para a ACLU, a poderosa organização de defesa dos direitos civis que está na linha de frente na batalha jurídica contra o decreto: foram coletados na internet 24 milhões de dólares em um fim de semana, seis vezes mais do que a média anual.

Fisher também se refere à convocação de uma greve geral em 17 de fevereiro lançado nas redes sociais, em um país onde as grandes greves são muito raras.

Será que estamos caminhando para uma “Primavera americana”? Tudo poderia parar, diz, se Donald Trump “agisse realmente como um presidente”.

Mas Fisher não acredita que isso vá acontecer, e espera que “mais pessoas se manifestem” na próxima primavera.

Uma previsão confirmada por vários manifestantes nos últimos dias. “As manifestações são parte da equação, mas não são tudo”, diz Laurean Ingest, de 26 anos, que participou de doze protestos desde a posse de Trump.

“É um período preocupante” e participar de marchas “é um bálsamo para o coração”, afirma.