21/09/2017 - 10:24
Bioma mais ameaçado do País, com somente cerca de 12% de remanescentes florestais, mas também um dos mais estudados pela ciência, a Mata Atlântica ainda guarda surpresas. No alto da Serra da Mantiqueira, onde o acesso é difícil e as ventanias e tempestades castigam, um grupo de pesquisadores do Instituto Florestal (IF) descobriu uma nova espécie de árvore.
Da família das canelas, a Ocotea mantiqueirae foi vista pela primeira vez em 2005 pelo engenheiro agrônomo Frederico Arzolla. Ele estava explorando a área da Fazenda São Sebastião do Ribeirão Grande, em Pindamonhangaba, durante pesquisas do seu doutorado. “Foi um misto de acaso com o fato de estar em um local ainda muito pouco estudado”, conta.
A fazenda se distribui ao longo da Serra da Mantiqueira, dos 800 metros aos 1,9 mil metros de altitude. Para chegar ao alto, foram cinco horas de caminhada, se agarrando em toco de palmito e em samambaias.
A partir dos 1,5 mil metros de altitude, começa a transição entre floresta montana, que ainda tem árvores muito altas, como as que cobrem a Serra do Mar, para uma vegetação alto-montana, com árvores de no máximo 10 metros de altura.
“A partir dos 1,7 mil metros, essa espécie predomina, em uma pequena mancha com essa característica de dossel mais baixo e ralo. São vários troncos finos, entre 18 e 50 centímetros de circunferência, que formam um tipo de moita. Mas tudo isso é um mesmo indivíduo”, diz.
Arzolla coletou frutos da árvore e trouxe de volta para São Paulo. O taxonomista do IF João Baitello percebeu logo que aquilo poderia ser uma espécie nova, mas as investigações só foram retomadas a partir de 2011. Era necessário fazer mais coletas, especialmente das flores da árvore.
A O. mantiqueirae tem a peculiaridade de ter indivíduos de apenas um sexo – macho ou fêmea – ao contrário da maioria das outras espécies de árvores, que são hermafroditas, ou seja, têm flores dos dois sexos no mesmo indivíduo. A identificação ficou a cargo de Baitello, que precisou do repertório completo para bater o martelo de que se tratava mesmo de uma nova espécie. “É um feito, não tenha dúvida”, resumiu.
Os pesquisadores tentaram achar a espécie em outros pontos da Mantiqueira que fossem de mais fácil acesso, mas a O. mantiqueirae é bem rara. Por ocorrer em um único lugar, em uma população pequena, mal foi descoberta e já foi classificada como em perigo de extinção. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.