26/06/2021 - 0:10
Uma nova espécie de homem primitivo, recentemente descoberta em Israel, questiona a ideia de que o homem de Neandertal surgiu na Europa antes de migrar para o sul – afirmam os cientistas.
Escavações arqueológicas perto da cidade de Ramla, no centro de Israel, por uma equipe da Universidade Hebraica de Jerusalém, descobriram vestígios pré-históricos que não correspondem a qualquer espécie já conhecida de Homo, incluindo os humanos modernos (Homo sapiens).
Em um estudo publicado na revista Science, antropólogos e arqueólogos da Universidade de Tel Aviv, liderados por Yossi Zaidner, batizaram a descoberta como “Homo Nesher Ramla”, devido ao local em que os vestígios foram encontrados.
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Os ossos teriam entre 120.000 e 140.000 anos e compartilham traços comuns com os Neandertal, sobretudo, dentes e mandíbula, e com outros tipos de homens pré-históricos, principalmente no crânio, indicaram os cientistas em um comunicado.
“Ao mesmo tempo, este tipo de Homo é muito diferente dos humanos modernos, com uma estrutura de crânio completamente diferente, sem queixo e com dentes muito grandes”, explicam.
Além dos restos humanos, a escavação encontrou, a oito metros de profundidade, uma grande quantidade de ossos de animais e de ferramentas de pedra.
“As descobertas arqueológicas associadas com fósseis humanos mostram que o Homo Nesher Ramla tinha técnicas avançadas de produção de ferramentas feitas com pedra e, possivelmente, interagiu com o Homo sapiens local”, disse Zaidner.
De acordo com o especialista, a descoberta é “particularmente espetacular, porque mostra que havia diversos tipos de Homo que viviam no mesmo lugar, no mesmo momento, neste período da evolução humana”.
Os pesquisadores sugeriram que alguns fósseis previamente encontrados em Israel, que datam de até 400.000 anos atrás, poderiam pertencer ao mesmo tipo de humano pré-histórico.
– Peça no quebra-cabeça evolutivo –
A descoberta do Homo Nesher Ramla questiona a teoria de que os Neandertal surgiram primeiro na Europa antes de migrarem para o sul.
“Esta teoria passa a ser questionada, porque (a descoberta) sugere que os ancestrais do Neandertal europeu já viviam no Levante há 400.000 anos”, disse o antropólogo Israel Hershkovitz, da Universidade de Tel Aviv.
“Nossas descobertas sugerem que os famosos Neandertal da Europa ocidental são apenas o que restou de uma população muito maior que viveu aqui no Levante, e não o contrário”, completou.
A dentista e antropóloga Rachel Sarig, da Universidade de Tel Aviv, uma das autoras do estudo, explicou que as descobertas indicam que “pequenos grupos do Homo Nesher Ramla migraram para Europa, onde se converteram nos Neandertal ‘clássicos’ que também conhecemos, e também na Ásia, onde se converteram em populações pré-históricas com características parecidas com as dos Neandertal”.
“Entre África, Europa e Ásia, a terra de Israel foi o caldeirão onde diferentes populações humanas se misturaram para depois se espalharem”, disse.
“A descoberta escreve um novo e fascinante capítulo na história da humanidade”, completou.
A descoberta tem grande importância científica, segundo Hershkovitz, porque permite adicionar uma peça no quebra-cabeça da evolução humana e compreender melhor as migrações dos humanos na antiguidade.
Os geneticistas que estudam o DNA do Neandertal europeu sugeriram, no passado, a existência de uma população similar, chamada de “população desaparecida”, ou “população X”, que teria encontrado o Homo sapiens há mais de 200.000 anos.
Em seu artigo, os cientistas israelenses sugerem que o Homo Nesher Ramla pode ser o elo perdido.