CNN, Vox Media, Washington Post… O inverno boreal (verão no Brasil) está sendo marcado por uma nova onda de demissões nos veículos de comunicação americanos, em meio a um clima econômico sombrio e à queda com receita de publicidade.

“Faço parte do grupo demitido pela @NBCInvestigates (NBC) (…) Vou sentir saudades, mas agradeço pelo tempo que passei aqui”, diz Emily Siegel, em um breve tuíte publicado na quarta-feira passada (18).

Assim como ela, vários jornalistas das redações da NBC, do grupo MSNBC, ou da CNN, têm usado as redes sociais para anunciar suas demissões no último mês.

Na sexta-feira (20), os funcionários da Vox Media, proprietária da Vox, The Verge, SBNation e, desde 2019, da prestigiosa New York Magazine, receberam o mesmo e-mail do presidente do grupo, Jim Bankoff, anunciando a “difícil decisão de cortar cerca de 7% da nossa equipe em todos os departamentos”, incluindo a redação, “devido a um ambiente econômico difícil”.

– “15 minutos” –

Os trabalhadores afetados, em torno de 130 de um total de 1.900, receberam uma segunda mensagem, “15 minutos depois”, com a decisão, segundo o e-mail.

Vários manifestaram sua raiva, ou frustração, nas redes sociais, como Meghan McCarron, jornalista há “nove anos e meio” do portal especializado em restaurantes Eater. Ela foi demitida grávida de “37 semanas”.

Vox Media disse à AFP que o grupo oferece “indenizações competitivas”, ou seja, semanas adicionais, no caso de uma licença-maternidade próxima.

Embora as demissões não sejam do calibre das anunciadas pelas grandes empresas de tecnologia – como o Google, que divulgou, na sexta-feira, um corte de 12.000 vagas –, a mídia americana também se vê afetada pela “queda das receitas publicitárias e pela desaceleração da economia”, disse à AFP Chris Roush, professor de jornalismo e reitor da Escola de Comunicação da Quinnipiac University, de Connecticut.

“Muitos cresceram e se desenvolveram na esperança de aumentar suas audiências até determinados níveis. Não conseguiram, e há poucas chances de sucesso, dado o contexto econômico”, acrescenta.

– Menos jornalistas –

O emprego nas redações caiu nos Estados Unidos, de 114 mil para 85 mil jornalistas entre 2008 e 2020, segundo estudo do Pew Research Center, em 2021. A queda é maior na imprensa local.

“Há tempos, o jornalismo está sob pressão, e algumas empresas parecem achar que é o momento certo para reduzir os custos com mão de obra”, lamenta a Associação de Escritores da América, que representa os sindicatos da NBC e da MSNBC.

Nestes dois veículos, que não reagiram ao contato da AFP, 75 funcionários teriam sido demitidos, segundo a imprensa americana.

Em meados de dezembro, o diretor do jornal The Washington Post, Fred Ryan, já havia anunciado que haveria demissões no primeiro trimestre de 2023, sem especificar quantas.

A redação do jornal, propriedade desde 2013 de Jeff Bezos, fundador da Amazon, soube no Natal de 2022 do fim do suplemento dominical, vencedor de dois prêmios Pulitzer em 2008 e 2010.

– Concorrência –

Em dezembro, a CNN teria demitido centenas de funcionários, segundo a mídia americana, dados não confirmados pela emissora. Os cortes ocorreram como parte da reorganização, após a fusão entre WarnerMedia (CNN, HBO Max) e Discovery, que criou o gigante de streaming Warner Bros. Discovery.

Em abril, o grupo encerrou seu serviço pago de streaming CNN+, apenas um mês depois de seu lançamento.

Após anos de queda no número de telespectadores e de assinantes, além da concorrência de plataformas como a Netflix, “essas empresas travam uma luta constante para resistir”, afirmou o diretor da S&P Global Ratings, Naveen Sarma.

Para Chris Roush, meios de comunicação, como CNN e The Washington Post, “não vão desaparecer, mas uma empresa menor terá problemas, já que não está tão bem estabelecida quanto uma marca midiática”.

Ele cita, em particular, o Buzzfeed, ou o Vice Media. Em dezembro, o primeiro demitiu 12% de seu pessoal, enquanto a CEO do segundo, Nancy Dubuc, anunciou para seus funcionários, na sexta-feira, o plano de vender o grupo.