O termo blue chip teve origem nos jogos de pôquer nos Estados Unidos. As primeiras caixas de fichas (chips) eram muito simples. Tinham exemplares brancos, vermelhos e azuis, as cores da bandeira americana, sem indicação de valor. O uso gerou a convenção de que as peças azuis eram as mais valiosas. No início do século passado, o termo passou a ser aplicado às ações com grande participação no mercado, papéis que todos os investidores acompanhavam. A aprovação da reestruturação da Oi/Brasil Telecom na segunda-feira 27 dá à luz, já no nascimento, nova blue chip no mercado brasileiro. “A companhia inicia agora uma nova fase”, disse o presidente da Oi, Francisco Valim, em  teleconferência realizada logo após a assembleia que aprovou a mudança.

99.jpg

 

Com a reestruturação, duas das três empresas abertas que formam o grupo – Telemar Norte Leste Participações e Telemar – serão absorvidas pela Brasil Telecom, que passará a se chamar apenas Oi. As ações dessas companhias serão permutadas por papéis da Oi, com relações de troca entre 1,8 e 5,11 ações antigas entregues para cada papel novo recebido. Os acionistas atuais têm até o dia 29 de março para decidir se concordam com a proposta ou se revendem seus títulos para a empresa, utilizando o chamado direito de recesso. Alex Zornig, diretor de relações com investidores da Oi e arquiteto da operação, diz que pode recomprar até 90% dos papéis hoje em poder dos minoritários, embora não espere uma fatia tão elevada de gente querendo se desfazer deles. 

 

“Sou um sujeito conservador e tenho de me preparar para o pior cenário”, diz ele. Após a conclusão desse processo, as ações da empresa unificada vão estrear no pregão, no início de maio. Na ponta do lápis, as economias previstas são de R$ 100 milhões por ano em custos administrativos e legais. “Apenas o gasto com auditoria será reduzido à metade”, diz Zornig. Os benefícios vão além da economia. Com a mudança, as ações têm tudo para ficar entre as mais negociadas do mercado. O giro financeiro de todos os papéis do grupo, nos 12 meses até o fim de fevereiro, somou R$ 8,9 bilhões, o que colocaria essas ações no quinto lugar em volume de transações, situação que lembra os anos 1990. 

 

100.jpg

 

 

Naquele período, os papéis da holding estatal Telebras – que controlava todas as telefônicas estaduais e a Embratel – foram os mais negociados na bolsa brasileira, respondendo por 50% do volume total (leia quadro ao final da reportagem). Era uma concentração inimaginável hoje em dia. Petrobras PN, a ação mais negociada do mercado atualmente, representa de 12% a 14% do volume de transações. Esse aumento dos negócios trará duas vantagens. A primeira é turbinar o valor dos papéis. “Ações líquidas valem mais”, diz Alex Pardellas, analista de telecomunicações da corretora Banif. Ele recomenda comprar as ações da Oi, pois avalia que a operadora está defasada em relação à concorrência. A segunda vantagem é tornar mais simples à companhia conseguir os recursos necessários para investir. 

 

“Além da redução de custos e dos benefícios fiscais, essa unificação facilita a vida dos analistas e dos banqueiros de investimento, que antes tinham de cobrir três empresas e agora terão de acompanhar apenas uma”, diz Udi Margulies, diretor de fusões e aquisições para a América Latina do banco Barclays Capital, que assessorou a empresa no processo de reestruturação. É hora, então, de vender tudo e comprar ações da Oi? Calma. A reestruturação resolve um problema, mas ainda há vários desafios pela frente. Luciana Leocádio, da Ativa Corretora, avalia que as receitas da companhia têm estado sob pressão devido à queda no faturamento da telefonia fixa e a entrada de concorrentes, como Net e GVT. Não por acaso, Valim afirma que os investimentos futuros da empresa serão destinados a crescer nos mercados de telefonia móvel e televisão por assinatura. “Somos um novo entrante, temos apenas 3% do mercado e podemos tirar território dos nossos concorrentes”, diz Valim. A conferir. 

 

101.jpg