25/04/2022 - 17:47
China foi a palavra-chave do dia, com o distanciamento social em grandes cidades do país realimentando dúvidas quanto à demanda e o crescimento global na semana que antecede decisão de política monetária nos Estados Unidos e também no Brasil. Mesmo com a aversão a risco desde o exterior, o Ibovespa fechou acima dos 110 mil pontos, chegando a oscilar pontualmente para o positivo (+0,07%) no melhor momento da tarde. Ao fim, mostrava leve perda de 0,35%, aos 110.684,95 pontos, estendendo a série negativa pela sexta sessão, algo não visto desde janeiro de 2021. Foi o menor nível de fechamento desde 15 de março, então aos 108.959,30 pontos.
Nesta segunda-feira, a referência da B3 oscilou entre mínima de 109.221,87, menor nível intradia desde 16 de março (108.957,59), e máxima de 111.155,01, saindo de abertura a 111.076,85 pontos. O giro ficou em R$ 26,2 bilhões na sessão. Com a perda até aqui de 7,76% em abril – a pior desde março de 2020 (-29,90%), o ponto mais baixo da pandemia -, o Ibovespa limita os ganhos do ano a 5,59%.
O primeiro-ministro da China, Li Keqiang, disse nesta segunda que a economia chinesa lida com “nova, crescente pressão de baixa”, devido ao impacto de mudanças “maiores do que o esperado” nos cenários doméstico e internacional, que merece “grande atenção”. De acordo com a Xinhua, agência estatal chinesa, o premiê fez as observações durante reunião do Conselho de Estado.
Em meio a dúvidas sobre o dinamismo da China, o pessimismo deste começo de semana transpareceu especialmente nas ações de commodities, embora moderado em direção ao fechamento da sessão, com Vale ON em baixa limitada a 1,70% e Petrobras ON, de 0,69%, assim como no setor de siderurgia, contidas a 2,64% (CSN ON).
Retração bem maior foi vista no começo da tarde, mas a limitação do ajuste e posterior virada nas três referências de Nova York – impulsionadas pelo anúncio da compra do Twitter por cerca de US$ 44 bilhões pelo bilionário Elon Musk – contribuíram para que o Ibovespa contivesse as perdas da sessão, que alcançaram também as ações de grandes bancos, à exceção de BB ON (+0,78%).
Na ponta negativa do Ibovespa, BRF (-3,65%), CSN (-2,64%) e Soma (-2,56%). Na face oposta do índice, Cogna (+3,57%), Cemig (+2,87%) e Petz (+2,85%).
As incertezas sobre o ritmo de atividade na segunda maior economia do mundo se combinam ao ajuste das políticas monetárias em curso no mundo. Caso se confirmem as mais recentes indicações de autoridades do Federal Reserve – entre as quais o presidente, Jerome Powell -, a expectativa é por aumento mais forte nos juros americanos na reunião dos dias 3 e 4 de maio, em ciclo de ajuste mais restritivo daqui para frente, ante a resiliência da inflação apesar de sinais mais fracos da economia global.
“A Bolsa de Xangai caiu mais de 5% nesta segunda-feira, em seu pior fechamento desde 2020, sob expectativa de novas restrições para conter a alta de casos de Covid na China”, aponta Arthur Schneider, responsável por distribuição de produtos na Monte Bravo Investimentos. Ele acrescenta que, desde a última sexta-feira, o mercado “virou a chave” para a reunião do Fed, na próxima semana, reprecificando de maneira agressiva o ajuste nos juros americanos, ensaiando consenso para alta bem maior nesta reunião, de até 0,75 ponto porcentual na taxa de referência.
“Além disso, o Banco Central Europeu anunciou que também já deve começar a subir os juros por lá, colaborando com o clima de mau humor nos mercados”, observa Antônio Sanches, analista da Rico Investimentos. Em entrevista na última sexta à rede americana CNBC, junto com a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, a presidente do BCE, Christine Lagarde, sinalizou o encerramento das compras de ativos no terceiro trimestre e a possibilidade de que os juros de referência na zona do euro comecem a subir ainda em 2022.
Neste contexto de liquidez mais restritiva, o dólar se apreciou nesta segunda-feira no exterior, frente a referências da cesta do índice DXY, que inclui euro, iene e libra, e também no Brasil, onde a moeda americana à vista encerrou o dia em alta de 1,47%, a R$ 4,8755 – na máxima do dia, chegou perto de R$ 4,95, a R$ 4,9493. O petróleo, por sua vez, chegou a cair mais de 6%, mas fechou o dia com perdas abaixo de 4%, com o Brent negociado na casa de US$ 102 e o WTI, de US$ 98 por barril.
“Nesta semana, além da continuidade da temporada de balanços, com empresas do setor de tecnologia, de peso, divulgando resultados (Alphabet, Meta, Amazon e Apple), o mercado também conta com o PIB dos EUA e o deflator do PCE”, a métrica preferida do Fed para acompanhamento da inflação ao consumidor, observa em nota a Guide Investimentos.