27/05/2025 - 9:10
Um recente processo judicial em Paris traz à tona alegações feitas por Jean-Charles Naouri, ex-CEO do Grupo Casino, nas quais o empresário sugere que ações de determinados personagens internacionais podem ter contribuído para a crise financeira do importante grupo varejista francês.
Segundo Naouri, investidores e profissionais do mercado financeiro — incluindo Carson Block, do fundo Muddy Waters, o professor de Harvard William Ury e o CEO do Carrefour Alexandre Bompard — estiveram envolvidos em atividades que levaram à instabilidade do Grupo Casino.
Naouri não atribui diretamente culpa a Abilio Diniz, embora ambos tenham um histórico conhecido de disputas comerciais. Eles protagonizaram uma batalha pública pelo controle do Grupo Pão de Açúcar (GPA), de 2011 a 2013, que depois se arrastou por quase uma década em numerosas outras disputas.
Diniz e Naouri tornaram-se sócios em 1999, quando o então proprietário do Casino adquiriu uma participação minoritária no GPA, cuja situação financeira era então frágil. Em 2005, o Casino aumentou a sua participação no capital do GPA, e foi assinado um novo pacto de acionistas.
Em vez de uma participação minoritária, o acordo estipulava que Naouri poderia assumir o controle do GPA em 2012, data em que Abilio Diniz completaria 75 anos de idade. Durante os anos seguintes, o grupo brasileiro consolidou-se significativamente e tornou-se eficiente em vários setores.
Diante da melhora do desempenho do GPA e da boa situação econômica do Brasil à época, Diniz, então, propôs fundir as operações do GPA com as da filial brasileira do Carrefour — varejista de origem francesa rival do Casino —, um plano de complexa engenharia financeira que embutia a tentativa de impedir Naouri de tornar-se acionista majoritário da companhia brasileira.
A operação não teve sucesso. A disputa foi parar nos tribunais e ficou escancarada diariamente nas páginas dos jornais. Naouri ganhou a batalha e assumiu o GPA em 2012. Em 2013, Diniz deixou a empresa fundada por seu pai, Valentim, e usou o dinheiro da venda de suas ações para tornar-se um dos principais acionistas do Carrefour e de várias outras companhias. Faleceu em 18 de fevereiro de 2024, aos 87 anos de idade.
Embora Naouri tenha ficado com o controle do GPA, a matriz francesa do Casino começou a ter ascendentes problemas financeiros com implicações também em sua operação brasileira. Em março de 2024, acabou perdendo o controle acionário do GPA, diminuindo sua participação de 40,9% para 22,5%. Isso exigiu que o GPA buscasse novos parceiros e investidores.
A situação tornou-se mais complexa quando o Casino decidiu suspender garantias financeiras no valor de R$ 2,6 bilhões que protegiam o GPA em disputas fiscais. Tal decisão levou o GPA a renegociar suas dívidas, estimadas em aproximadamente R$ 500 milhões, a fim de manter sua estabilidade financeira.
Embora as alegações de Naouri ainda precisem ser examinadas pela justiça francesa, elas são gravíssimas e ajudam a compreender parte das razões que levaram ao cenário atual enfrentado pelo GPA no Brasil. O caso traz à luz importantes discussões sobre o impacto das decisões estratégicas e financeiras em grupos internacionais e em suas subsidiárias.
Agora, é necessário aguardar a análise judicial das afirmações feitas por Naouri para entender plenamente os desdobramentos e as responsabilidades envolvidas nessa crise internacional.
Confira os documentos relativos ao caso da Casino na justiça francesa: