16/01/2015 - 10:00
A rotina se repete diariamente. Nas primeiras horas do dia, a empresária francesa Carol Duval-Leroy degusta, durante o café da manhã, algum champanhe de sua vinícola. A cada dia da semana, uma safra variada e uma nova harmonização. Mais do que um hábito gastronômico, trata-se de um negócio. Carol é herdeira e CEO da vinícola Duval Leroy, uma das 15 mais renomadas produtoras de champanhe, segundo a Wine Spectator, publicação especializada no assunto. “Espumante é uma bebida que combina com festa e, por isso, tem a cara do Brasil”, diz a empresária.
Depois de um ano estruturando seu plano de expansão para a América do Sul, ela anunciou, no mês passado, sua vinda ao País. “Nossas operações devem começar em março deste ano”, afirma. Fundada em 1859 a partir da junção das tradicionais famílias francesas Duval e Leroy, a marca é entusiasta da produção de vinhos a partir da agricultura orgânica. A empresa cultiva suas uvas no vilarejo de Vertus, no coração da região de Champagne – razão pela qual seu espumante pode ser referido como champanhe. Com uma estrutura de negócio familiar, a empresa faturou estimados € 30 milhões em 2014, provenientes de uma produção anual de 5,5 milhões de garrafas.
Destas, 30 mil unidades, de acordo com Carol, devem chegar ao País ao longo deste ano. Para viabilizar o embarque da marca em território nacional, a Duval Leroy recebeu um aporte de R$ 10 milhões do BRP Group, associação internacional de investidores que também atua nos ramos de alimentação, seguros e imóveis. A partir de um projeto ousado, a Duval Leroy pretende iniciar suas operações por aqui inaugurando uma vila, com 100 mil metros quadrados, em uma área de Mata Atlântica no interior de São Paulo, a 80 quilômetros da capital. “Lá, vamos receber clientes e convidados ilustres”, diz Wael Mustapha, CEO do BRP Group.
A estratégia de entrada da maison é vender para restaurantes, redes de hotéis, companhias aéreas e empórios de luxo. “A despeito das dificuldades de exportação, o preço do champanhe Duval Leroy estará em torno dos R$ 400”, diz Tatjana Ceratti, modelo, empresária e embaixadora da marca no Brasil. Ainda que não tenha começado a operar propriamente por aqui, a empresa já fechou contrato com o restaurante Reis & Magos, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, território ocupado há anos pela tradicionalíssima e concorrente Veuve Clicquot. A decisão da Duval Leroy de fincar raízes no Brasil se justifica.
Nos últimos dez anos, o consumo de espumante aumentou 350% e deve chegar aos 17 milhões de litros em 2014, segundo estimativas do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). A vinícola também deve se beneficiar do maior refinamento do paladar do brasileiro em relação a bebidas. “Cada vez mais, as pessoas aprendem a apreciar um bom espumante”, diz Daniel Geisse, presidente da gaúcha Cave Geisse. A sofisticação comportamental do brasileiro e o aumento no consumo da bebida compõem um “terroir” ideal para a consolidação do mercado de espumante no País. “A chegada de novos concorrentes e a maturidade do consumidor são ótimas, tanto para os produtores nacionais como para os internacionais”, afirma Geisse. A concorrência será, provavelmente, o maior desafio da Duval Leroy no mercado local.
Aproximadamente 80% dos espumantes consumidos no País são nacionais. “A qualidade desse tipo de bebida produzida localmente está subindo vertiginosamente”, diz Geisse. Em meados do ano passado, por exemplo, o renomado crítico e consultor inglês de vinhos Steven Spurrier, conhecido por ter promovido, em 1976, “o julgamento de Paris”, a primeira degustação às cegas que redefiniu o mapa-múndi do vinho, enalteceu exemplares nacionais do líquido. “O brasileiro não precisa mais beber champanhe”, disse ele. A Duval Leroy, no entanto, tentará provar o contrário. “Acredito na força do champanhe e do mercado brasileiro”, diz Carol.