Os 56 milhões de habitantes da Inglaterra devem respeitar a partir desta quinta-feira (5) um novo confinamento para frear as infecções, como já acontece em outras nações da Europa, afetada por uma implacável segunda onda da pandemia que tampouco dá trégua nos Estados Unidos, país que registrou o recorde de 100.000 novos casos em apenas um dia.

Durante pelo menos quatro semanas, os ingleses serão autorizados a sair de casa apenas para comprar comida, comparecer ao médico, praticar exercícios ou seguir até o trabalho, quando não for possível adotar o ‘home office’.

EUA registram recorde de novos casos diários de Covid-19 (Johns Hopkins)

Covid-19: Brasil registra 610 mortes e 23,9 mil casos em 24 horas

País mais afetado da Europa pela pandemia, o Reino Unido registra quase 48.000 mortes provocadas pela covid-19, com 492 vítimas fatais apenas na quarta-feira, o maior balanço diário desde maio.

Depois de resistir à ideia de um segundo confinamento nacional, o primeiro-ministro Boris Johnson anunciou no sábado passado que o Reino Unido seguiria os passos de países vizinhos, como França e Irlanda, com a esperança de poder permitir as reuniões das famílias durante o Natal.

“Vamos pagar por isto durante anos”, lamentou Joe Curran, proprietário do pub The Queen’s Head, em Londres.

Em previsão aos graves efeitos econômicos da pandemia, o Banco da Inglaterra (BoE) anunciou nesta quinta-feira uma ampliação do programa de compra de ativos de 150 bilhões de libras adicionais (200 bilhões de dólares), o que eleva o pacote de estímulo financeiro a 895 bilhões de libras (1,16 trilhão de dólares).

– Uma Europa entrincheirada –

Em todo o mundo, a pandemia de covid-19 provocou 1,2 milhão de mortes e infectou mais de 47 milhões de pessoas, de acordo com o balanço da AFP com base em números oficiais.

A Europa, com mais de 11 milhões de casos – metade deles na Rússia, França, Espanha e Reino Unido -, é a região em que o vírus avança com maior velocidade.

A Itália, ainda traumatizada com a primeira onda, adota a partir desta quinta-feira um toque de recolher entre 22H00 e 5H00, a princípio até 3 de dezembro. O país registra mais de 39.000 mortes e 750.000 contágios e tenta frear as infecções sem decretar um confinamento total, pelo temor do impacto econômico.

Na Espanha, que supera 1,2 milhão de casos e registra quase 36.500 vítimas fatais, o governo é pressionado a seguir os outros países europeus e aplicar um confinamento domiciliar com o objetivo de achatar a curva da segunda onda de coronavírus.

Em Portugal, mais de sete milhões de pessoas (70% da população) respeitam desde quarta-feira um confinamento de pelo menos duas semanas. No mesmo dia, o país registrou 59 mortes e quase 7.500 novos casos de covid-19, o balanço mais grave desde o início da pandemia.

Em outros países da Europa, as imagens são similares: A Áustria adotou um toque de recolher noturno, a Polônia fechou bares e lojas, a Hungria retomou o estado de alerta e teme um colapso dos hospitais e na Suíça o exército foi colocado à disposição dos cantões para organizar hospitais ou transferências de pacientes.

As principais diferenças em relação aos confinamentos decretados na primeira onda são que a atividade econômica não foi paralisada e as escolas e creches permanecem, no momento, abertas.

– Recorde de contágios diários nos EUA –

Estados Unidos registraram 100.000 novas infecções em 24 horas, de acordo com os números divulgados na quarta-feira pela Universidade Johns Hopkins, o centro de referência no país, que também informou 1.112 mortes em apenas um dia.

Com 233.000 óbitos provocados pela covid-19, o país é o mais afetado pela pandemia, que foi um dos principais temas da disputa pela Casa Branca entre o presidente Donald Trump e seu rival democrata Joe Biden, que ainda não tem um vencedor nesta quinta-feira.

Na América Latina, vários países flexibilizaram as restrições após uma aparente estabilização dos casos. Cuba, no entanto, registrou na quarta-feira 109 novos casos de covid-19, um recorde em sete meses de pandemia, número impulsionado por 36 casos “importados”, de cubanos que retornaram recentemente ao país, segundo as autoridades.

A pandemia também tem efeitos colaterais graves para vítimas de outras doenças, que observam o adiamento de seus tratamentos devido à concentração de recursos na luta contra o coronavírus.

Um estudo publicado pela revista médica britânica BMJ aponta que um mês de atraso no tratamento de um câncer aumenta entre 6% e 13% os riscos de morte para o paciente.

E adiar em 12 semanas a cirurgia de um mulher com câncer de mama se traduz em 6.100 mortes adicionais em um ano nos Estados Unidos e 1.400 no Reino Unido.

burs-bl/mar/fp