26/10/2001 - 8:00
A expedição portuguesa comandada pela Portugal Telecom continua promovendo desembarques no mundo dos negócios do Brasil. Se até agora ancoraram grandes caravelas, chegou a vez das pequenas naus, mas carregadas do mais precioso capital dos tempos modernos, a tecnologia. Em janeiro de 2002, começa a funcionar no Brasil uma subsidiária da PT Inovação, a empresa de pesquisa e desenvolvimento do grupo Portugal Telecom. Foi nos laboratórios da Inovação, localizados em um aprazível parque na cidade de Aveiro, que nasceu o primeiro telefone celular pré-pago no mundo. Batizado de Mimo no mercado lusitano, o invento foi o principal motor de arranque da Portugal Telecom aqui no Brasil, com o nome Baby. Graças a ele, a Telesp Celular, braço paulista da empresa, em pouco mais de 3 anos atingiu 6 milhões de clientes em suas três áreas de atuação no Brasil: os Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Foi em Aveiro, também, que o sistema de acesso à Internet via celular foi desenvolvido para implantação nos telefones brasileiros. ?A Inovação é nosso núcleo de excelência e tecnologia?, diz Francisco Murteira Nabo, presidente mundial da Portugal Telecom (leia, adiante, entrevista exclusiva concedida a DINHEIRO). ?Com ela, teremos mais condições de manter a liderança tecnológica em telefonia móvel no Brasil.?
Entre as novidades que podem desembarcar por aqui estão o Paco, um celular pré-pago que concede bônus para o usuário a cada ligação recebida. Trata-se de um produto ideal para consumidores de baixa renda. Outra ?invenção? é os pacotes-minutos. O cliente compra uma assinatura que lhe dá direito a certo tempo de conversação. Esse pacote, mediante o uso de uma senha, pode ser compartilhado por mais de um aparelho. ?É uma ótima opção para a família?, diz Iriarte Esteves, presidente da TMN, o braço de telefonia móvel da Portugal Telecom.
Cientistas. A PT Inovação brasileira funcionará em Campinas, em São Paulo, para aproveitar um relacionamento já existente com o CPqD, o principal instituto de pesquisas em telecomunicações brasileiro. Em um primeiro momento, terá um quadro de cerca de 20 funcionários, formado na maioria por cientistas e engenheiros pós-graduados. Será uma reprodução da estrutura da sede portuguesa. Lá, trabalham 300 pessoas distribuídas em três pólos, localizados em Aveiro, Lisboa e Porto. Desse total, 240 são técnicos e engenheiros, dos quais mais de 15% têm pós-graduação ou mestrado. A cada ano, a empresa ministra cerca de 300 cursos para seus funcionários, clientes e fornecedores. ?Trabalhamos com o desenvolvimento de produtos e serviços para o prazo de quatro anos?, diz Paulo Nordeste, presidente da PT Inovação.
FRANCISCO NABO FALA DOS PLANOS PARA O BRASIL
DINHEIRO ? A Portugal Telecom tem condições de sobreviver em um mercado dominado por grandes conglomerados?
Francisco Murteira Nabo ? Há realmente um movimento de concentração no mercado mundial e no europeu em particular. Acredito que a médio prazo, teremos quatro a cinco grupos atuando na Europa. Dois deles já estão configurados, um liderado pela Vodafone e outro pela France Telecom. Nós temos espaço seguramente e estaremos integrados a um dos
outros grupos.
DINHEIRO ? Isso significa que o controle da Portugal Telecom possa ser vendido?
Nabo ? Não. Esses grupos podem ser constituídos por meio de parcerias e alianças que tenham, inclusive, flexibilidade de atuação em cada país. Estamos nos preparando há anos para esse quadro de mais competitividade, principalmente ganhando escala e agregando valor. Hoje, somos uma empresa de 16 milhões de clientes, contra apenas 4 milhões há 5 anos. O Brasil foi prioritário nessa estratégia. Entramos no mercado brasileiro com a Telesp Celular e a Global, temos uma participação no UOL e fechamos um acordo com a Telefonica para atuar em conjunto em telefones celulares no Brasil.
DINHEIRO ? Muita gente fala que esse acordo foi o primeiro passo para uma possível compra do controle da Portugal Telecom pela Telefonica…
Nabo ? Garanto que não há nada nesse sentido. Não há negociações nem acordos além dos que são públicos. Além disso, veja se há sentido: meses atrás, firmamos uma parceria de nosso portal, o Zip.Net, com o UOL e passamos a deter 18% do capital do UOL. Se tivéssemos algum projeto de união com a Telefonica, o mais sensato seria fazer um acordo com o Terra, que pertence aos espanhóis.
DINHEIRO ? Sua empresa pagou US$ 365 milhões pelo Zip.Net. Não foi caro?
Nabo ? Também falaram que pagamos muito dinheiro pela Telesp… Quanto ao Zip.Net, é preciso analisar o momento em que a compra ocorreu. Era uma situação totalmente diferente da atual. Tudo era muito caro, os ativos estavam supervalorizados. Uma parte do pagamento para Marcos de Moraes foi feita em forma de ações da Portugal Telecom e essas ações também valiam mais do que hoje, pois todo o mercado de telecomunicações no mundo sofreu queda violenta. O importante é que, graças a esse negócio, temos hoje uma base sólida na Internet no Brasil e na América Latina.
DINHEIRO ? O UOL tem escala suficiente para brigar com empresas globais como AOL e Terra?
Nabo ? O UOL é um portal poderoso, com excelente penetração no Brasil e na América Latina. Em tese, para crescer pode fazer alianças, como fez com o Zip.Net. Nos primórdios da Internet, falou-se muito que as receitas viriam de publicidade, depois de e-commerce. Mas o que dá uma base sólida para as empresas de Internet é o número de assinantes. É a escala.
DINHEIRO ? Mas Luís Frias, sócio majoritário do UOL, já disse que não entrega o controle do UOL nunca…
Nabo ? Para fazer alianças não é necessário abrir mão do controle. Numa hipótese, e isso não passa de hipótese, de que haja necessidade de negociações mais profundas, o os interesses da empresa vêm em primeiro lugar.
DINHEIRO ? A Portugal Telecom pretende aumentar sua participação no UOL?
Nabo ? Estamos discutindo com a Abril o destino do Idealize, no qual temos uma participação. Como ambos somos também acionistas do UOL, pode ser que a decisão em relação ao Idealize inclua também mudanças em nossas participações no UOL. Mas, por enquanto, isso é uma possibilidade, nada está decidido.
DINHEIRO ? Se o senhor soubesse que a economia brasileira seria tão instável, investiria tanto dinheiro
no País?
Nabo ? Não estou arrependido de ter investido no Brasil. O mercado brasileiro continua tendo um potencial enorme, independentemente das crises, que são conjunturais. Se eu soubesse que haveria esse quadro de instabilidade, investiria talvez menos dinheiro, mas investiria de qualquer forma.