06/03/2025 - 10:44
Três meses após queda de Assad, sírios pedem ajuda à comunidade internacional para eliminar o arsenal químico nacional. Antigo regime teria usado esse tipo de armamento em pelo menos 20 ataques.O governo da Síria anunciou nesta quarta-feira (06/03) que pretende destruir todo o arsenal químico do país. O anúncio foi feito durante um encontro entre representantes sírios e da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW), em Haia, quase três meses após a deposição do ditador Bashar al-Assad .
“O programa de armas químicas do regime de Assad é um dos capítulos mais sombrios da história da Síria e do mundo”, afirmou o ministro do Exterior sírio, Assad al-Shaibani, acrescentando que seu país está empenhado em destruir todas as armas restantes para “pôr um fim a essa herança dolorosa”.
Shaibani frisou ser esta foi a primeira vez na história que o governo sírio participou de uma reunião do conselho executivo da OPCW, e pediu ajuda à comunidade internacional ajuda para a destruição do arsenal.
O diretor-geral da OPCW, Fernando Arias, afirmou que a queda de Assad em dezembro proporcionou uma “oportunidade nova e histórica” para documentar e destruir completamente os estoques de armas químicas da Síria.
Em fevereiro, Arias esteve na Síria, onde se reuniu com o presidente interino, Ahmed al-Sharaa. Nos próximos dias, especialistas da organização devem viajar até a Síria.
Armas químicas durante a guerra civil
Assad foi acusado em várias ocasiões de usar armas químicas durante os 13 anos de guerra civil que devastou o país. Investigadores da OPCW concluíram que o regime possivelmente empregou armas químicas em pelo menos 20 ataques, sendo o cloro, o gás sarin e o gás mostarda os agentes mais usados. O governo sírio sempre negou as acusações.
Sob forte pressão internacional, em 2013 a Síria aderiu à Convenção sobre Armas Químicas – acordo que proíbe o desenvolvimento, transferência e uso deste tipo de armamento. A adesão foi pouco depois de um ataque com gás sarin em Ghouta, região então ocupada por rebeldes, que deixou centenas de mortos. Na época, o regime de Assad negou ter usado o gás no bombardeio.
Apesar de Damasco ter concordado entregar para destruição seu estoque declarado, a OPCW sempre se preocupou que a declaração feita pelo regime de Assad estivesse incompleta. Segundo a organização, o trabalho de seus inspetores na Síria foi obstruído por 11 anos.
Depois da queda de Assad, no início dezembro, a OPCW expressou apreensão sobre os perigos representados pelo arsenal químico sírio. No entanto, o grupo islamista Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS), que assumiu o poder, anunciou que protegeria os estoques.
Pouco tempo depois, contudo, Israel bombardeou locais na Síria onde armas químicas supostamente estariam armazenadas. Tel Aviv alegou que a finalidade foi evitar que essas armas caíssem em mãos de “extremistas”. Segundo a OPCW, o ataque pode ter destruído provas valiosas.
cn/av (DW, DPA, AFP)