Pisar no Hotel Glória é como entrar em uma cápsula do tempo. A tradicional construção de arquitetura clássica, inaugurada em 1922 para as celebrações do primeiro centenário da independência do Brasil, já hospedou personalidades como Albert Einstein, Maurice Béjart, Yuri Gagarin, Jane Fonda, Fidel Castro, Ava Gardner e Marilyn Monroe. Estrategicamente erguida no ponto mais privilegiado da praia de Botafogo, o local garante uma vista exuberante de alguns dos principais cartões-postais da Cidade Maravilhosa, a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar. O glamour do passado distante, que se transformou em decadência nas últimas décadas, e se tornou símbolo da queda do ex-dono Eike Batista, começa a ganhar vida novamente. Não como hotel, mas como um luxuoso empreendimento residencial.

Com injeção de R$ 400 milhões do fundo Opportunity Imobiliário ­­— que detém R$ 2,6 bilhões em ativos e 100 investidores — o novo Glória está sob reforma. O empreendimento, com entrega prevista para dezembro de 2025, terá 266 apartamentos com metragens de 70 a 314 metros quadrados, além de quatro lojas no térreo. O Valor Geral de Vendas (VGV) é estimado em R$ 700 milhões, segundo Jomar Monnerat, gestor do Opportunity Imobiliário. “O valor desse projeto não é apenas financeiro, é o resgate de um ativo da história do Rio de Janeiro e do Brasil”, disse o executivo. “As características do Glória e os detalhes cuidadosamente pensados nesse retrofit fazem desse empreendimento algo único no País.”

CARTÃO-POSTAL DA HISTÓRIA Prédio que se transformou em um ícone da arquitetura sobreviveu à derrocada de Eike e voltará à cena como sofisticado ativo residencial com recursos do Opportunity Imobiliário, gerido por Jomar Monnerat (foto principal). (Crédito: Fabio Cordeiro)

Com o metro quadrado avaliado em cerca de R$ 25 mil, cada apartamento do Glória custará de R$ 1,8 milhão a algo próximo a R$ 8 milhões. Monnerat diz que o projeto contempla a preservação das características icônicas do hotel, em harmonia com características contemporâneas. A responsável pela obra e incorporação é a SIG Engenharia. O novo Glória terá a sua fachada preservada e recuperada, seguindo a legislação para este modelo de empreendimento.

Os detalhes do Glória não se limitam à arquitetura histórica ou lista de hóspedes que passaram por lá. A área de lazer e a praça arborizada em frente ao hotel também foram restaurados. O empreendimento foi idealizado pelos escritórios cariocas Cité Arquitetura e Afonso Kuenerz Arquitetura. O projeto de interiores é assinado por Patrícia Anastassiadis e o paisagismo é do escritório Burle Marx. Para chegar à essência do residencial, o Opportunity Imobiliário contratou a DTG Brasil para elaborar um design thinking com alguns dos os principais especialistas do País. O projeto recebeu consultoria da MCF, de Carlos Ferreirinha.

TUDO NOVO Com o retrofit em curso, o Glória terá apartamentos de 70 a 314 metros quadrados, com um Valor Geral de Vendas de R$ 700 milhões. (Crédito: Fabio Cordeiro)

DIAS DE LUTA Os momentos mais dramáticos do Glória começaram em 2008, depois de 50 anos como propriedade da família de Eduardo Tapajós, morto em trágico acidente. O hotel acabou vendido pela viúva anos depois ao empresário Eike Batista. O plano de Eike era resgatar seu glamour do passado e transformá-lo novamente em hotel de alto luxo e também a sede de seu grupo.

Com a derrocada de Eike, no entanto, o ativo foi dado como parte da dívida de US$ 2 bilhões pelo grupo árabe Mubadala, que depois vendeu para o Opportunity por R$ 100 milhões, em 2020. O imóvel estava abandonado desde 2013. Superado os dias de luta, chegou a hora de novos dias do Glória.