Diante do maior interesse do cidadão comum pelo mundo dos investimentos, em tempos de juros historicamente baixos no Brasil, o Nubank, maior fintech do País, anunciou nesta sexta, 11, a aquisição da corretora Easynvest. Líder do segmento de plataformas digitais de investimento, com 1,5 milhão de clientes, a corretora marca um novo passo na estratégia da empresa de David Vélez, que poderá oferecer mais produtos a seus clientes – hoje, a startup tem quase 30 milhões de usuários em seus serviços de cartão de crédito e conta digital. A negociação, que não teve valor divulgado, foi antecipada pelo Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

O Nubank informou que, neste momento, nada vai mudar para os clientes das duas plataformas, que seguirão operando de forma independente. Um grupo de trabalho será formado para planejar os próximos passos de integração, que terá início após as aprovações dos reguladores, o Banco Central e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Para disputar o mercado de investimentos, o Nubank pretende apostar em estratégia similar à utilizada desde 2013 com seu cartão de crédito roxo: atingir um público até então deixado de lado pelas instituições já consolidadas.

São basicamente três os perfis que a fintech quer atingir. Um deles a Easynvest já domina: o investidor que gosta de ter autonomia para tomar decisões, sem a ajuda de assessores ou consultores. Os outros dois devem ser trabalhados: aquele que não gosta nem de pensar em investimento e acaba confiando seu dinheiro na mão do gerente do banco, e o desbancarizado, que não tem conta em banco e deixa a grana “embaixo do colchão”. Hoje, estima-se que cerca de 60 milhões de brasileiros estão nesse grupo.

“As plataformas de investimento que estão no mercado resolveram o problema de só 1% das pessoas. Quem tem R$ 1 milhão já saiu da poupança. Mas para o restante das pessoas ainda não houve uma alteração significativa”, disse Vélez, presidente do Nubank.

Para o executivo, o nicho de plataformas digitais está em transformação, e o Nubank poderá se diferenciar com investimentos pesados em tecnologia. “É difícil, por exemplo, você conseguir abrir uma conta de investimento com R$ 5, R$ 10 ou R$ 100, que seja rentável. Esse cliente não tem a estratégia de ninguém. Será preciso uma eficiência operacional enorme e é isso que vamos trazer”, disse.

A escolha da Easynvest para entrar no segmento dos “sem banco” passa pelo objetivo do Nubank de oferecer a maior autonomia possível ao cliente, sem cobrança de tarifas. “Algumas plataformas de investimento se parecem mais com agências bancárias”, disse. “Eles têm consultores, que dão conselhos. É algo legal, mas o cliente paga por isso.”

Disputa

A disputa pela compra da Easynvest foi grande, graças às perspectivas de crescimento do número de pessoas físicas na Bolsa. No início do ano, o fundo de private equity Advent tinha contratado o JP Morgan para a venda da corretora. Estavam no páreo o BTG Pactual, que tem buscado aquisições para o crescimento de sua plataforma digital, o PagSeguro e até o Mercado Livre, apurou o Estadão/Broadcast.

A diferença no perfil dos competidores mostra tanto o potencial do crescimento das plataformas de investimento quanto o fato de o jogo de quem estará na disputa desse mercado não estar definido. Vale lembrar que outra fintech, a Neon, que acaba de receber um aporte de R$ 1,6 bilhão, anunciou a compra da tradicional Magliano.

A corretora se junta à consultoria Plataformatec e à americana Cognitec na lista de compras realizadas este ano pelo Nubank. A aquisição da Easynvest também ocorre em um momento em que a fintech de David Vélez está bem capitalizada – nos últimos meses, recebeu US$ 700 milhões em aportes de investidores. Com a transação, o Advent passa a ser investidor do Nubank.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.