População de refugiados diminuiu em cerca de 50 mil no primeiro semestre de 2025, passando de 3,55 milhões no final de 2024 para cerca de 3,5 milhões.O número total de refugiados que vivem na Alemanha caiu pela primeira vez desde 2011, segundo dados do governo obtidos por meio de uma consulta do partido A Esquerda (Die Linke).

A população de refugiados diminuiu em cerca de 50 mil no primeiro semestre de 2025, passando de aproximadamente 3,55 milhões no final de 2024 para cerca de 3,50 milhões.

O número inclui pessoas com diferentes status de residência, desde recém-chegados até residentes de longa data. Entre eles, estão refugiados da Ucrânia.

O declínio reflete uma combinação de deportações, partidas voluntárias e naturalizações, informou A Esquerda. Esse movimento vem mais de uma década depois de a Alemanha acolher centenas de milhares de pessoas, muitas delas fugindo de guerras de países como a Síria, Afeganistão e Iraque, durante o governo de Angela Merkel.

Dos 3,5 milhões de refugiados atualmente no país, cerca de 492 mil têm status incerto, incluindo requerentes de asilo e pessoas com permanência temporária. Desse total, 1,27 milhão de refugiados vêm da Ucrânia, sob ataque em larga escala da Rússia desde fevereiro de 2022.

A deputada alemã Clara Bünger, da Esquerda, afirmou que o declínio “não é motivo para comemoração”, observando um aumento em todo o mundo dos fatores que têm forçado as pessoas a fugir e regras mais rígidas de refúgio.

Ela acrescentou que menos pessoas que precisam de proteção têm conseguido adentrar as fronteiras reforçadas da União Europeia. “A queda nos números absolutos na Alemanha apenas mostra o absurdo de se falar em uma suposta emergência para justificar a suspensão da lei de asilo da UE”, disse Bünger.

A Alemanha, assim como outros países do bloco, está adotando controles mais rigosos, como a restrição de pedidos de asilo e aumento de deportações. O governo no país determinou, por exemplo, que requerentes de asilo sem documentos de ingresso válidos ou que já apresentaram um requerimento em outro país da UE sejam barrados já na fronteira.

Conversas com o Talibã

Apesar das críticas de várias organizações humanitárias, o governo alemão confirmou nesta sexta-feira (19/09) que mantém conversas inclusive com o regime talibã – grupo fundamentalista islâmico que tomou de volta o poder do Afeganistão em 2021 após a retirada das tropas americanas.

Enviados do ministro do Interior alemão, Alexander Dobrindt, estão negociando deportações da Alemanha, de acordo com a imprensa alemã.

“Queremos facilitar repatriações adequadas e regulares para o Afeganistão”, disse Dobrindt à agência de notícias alemã dpa. Na agenda, constam discussões em andamento “com representantes afegãos” sobre o assunto.

Autoridades alemãs se reuniram com representantes do Talibã no início de setembro na capital do Catar, Doha, para discutir um mecanismo formal para deportações. Representantes do Catar servirão como mediadores, algo habitual nas dinâmicas com o Oriente Médio.

Além de politicamente controversas, as negociações com o Talibã – conhecido por suas graves violações de direitos humanos, sobretudo contra mulheres – também representam uma situação diplomaticamente complexa.

A Alemanha não reconhece o governo do Talibã como legítimo ou diplomaticamente válido e, portanto, não há relações diplomáticas entre os dois países oficialmente. Mas alguns contatos estão sendo mantidos por meio do consulado em Munique.

No jornal Tageszeitung, a deputada Luise Amtsberg, do Partido Verde, da oposição, descreveu as negociações com o regime talibã sobre deportações como perigosas em termos de política externa: “Esse tipo de diplomacia com os talibãs legitima o terror e a opressão e trai aqueles que trabalharam conosco por um Afeganistão democrático”.

No entanto, o novo governo federal, composto por conservadores da União Democrata Cristã (CDU), da União Social Cristã (CSU) e dos social-democratas de centro-esquerda (SPD), decidiu em seu acordo de coalizão encerrar os numerosos programas de admissão para pessoas em risco do Afeganistão da forma mais rápida e abrangente possível.

Os dois governos anteriores haviam prometido uma recepção generosa na Alemanha, principalmente para o pessoal contratado localmente e suas famílias

“Aproximadamente 2.450 pessoas afetadas estão esperando pelo resgate que lhes foi prometido. No entanto, o governo federal não está implementando isso. Trata-se de uma violação da lei com um anúncio”, disse a deputada alemã Schahina Gambir, do Partido Verde.

Refugiados detidos no Paquistão

A situação dos refugiados afegãos que se encontram atualmente no Paquistão e que enfrentam a deportação para o Afeganistão é particularmente precária.

Em meados de agosto, foi anunciado que o Paquistão havia, pela primeira vez, deportado 34 pessoas para o Afeganistão que estavam, na verdade, aguardando seu voo para a Alemanha.

De acordo com o governo alemão, desde então, houve cerca de 250 deportações. Estima-se que mais de 600 pessoas tenham sido presas no Paquistão.

Vários tribunais administrativos têm decidido que a Alemanha deve cumprir seus compromissos de aceitar refugiados.

sf (dpa, DW)